quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

DOZE SÉCULOS

ANO 01 – Nº 307

Não sei que idade você tem, mas quero fazer uma pergunta, no mínimo intrigante: você tem noção do que significam doze séculos? Tem? Não? Pois ontem eu conseguir, claramente ter essa noção. Vou contar como foi possível.

Precisava levar uma pessoa à estação rodoviária. Como nessa época do ano a cidade está quase vazia, o trânsito é tranquilo e o movimento flui com naturalidade. Ledo engano. Normalmente, quando a cidade está cheia, levo cerca de vinte minutos para fazer esse trajeto. Ontem saí com vinte e cinco minutos de antecedência. Não deu outra! Para entrar numa determinada avenida o trânsito estava parado. Havia um acidente bem na esquina de acesso.

Quando consegui “invadir” a avenida me defrontei com o primeiro semáforo. Recém havia fechado. Tudo bem! É só um semáforo fechado. Alguns anos depois ele abriu e consegui avançar. Três quarteirões depois tudo parou novamente. Ficou lento. Avançava e parava. Quando estava quase chegando ao próximo semáforo não havia nenhum carro à minha frente: o vermelho fechou. Mais algumas décadas e o verde abriu. Avancei, mas um senhor, bastante idoso, com dificuldade de locomoção estava na metade da faixa de segurança, caminhando com muita dificuldade: lá se foram mais quatro décadas. Concluída a travessia, continuei a arrastada trajetória. Cinquenta metros adiante, um semáforo de pedestres fechou. Tudo bem, esses são rapidinhos. Dessa vez não. Um século mais ou menos!

Precisava passar para a faixa da direita. Tinha que dobrar na próxima esquina. O trânsito enfileirado, ninguém dava acesso. Liguei a seta para a direita, mas o carro da direita buzinou sinalizando que não colaboraria. Esperei a próxima oportunidade. Um lustro depois uma motorista, com cara de contrariada, segurou o veículo e permitiu que eu entrasse.

Antes de chegar à esquina, novo semáforo fechado. Esse foi rápido, apenas um século! Por cem metros consegui acelerar o carro até encontrar aquele tipo de situação inexplicável: o carro à frente querendo passar para a faixa da direita. O da direita querendo entrar à esquerda. O carro seguinte ocupando duas faixas simultaneamente e logo à frente, um caminhão de entregas, com o sinal de advertência ligado, parado no meio da rua. Lá se foram dois séculos para esse “nó” se desmanchar.

Quando adentrei na rua da rodoviária, já se havia passado doze séculos e faltavam alguns segundos para o ônibus sair. Ainda bem que, nesta cidade, há uma norma interessante e boa: nenhum ônibus arranca do seu Box antes de se passarem cinco minutos da sua hora de partida, ou seja, sempre cinco minutos atrasados: foi a salvação!

Se ainda tinha dúvidas, ontem ficou cabalmente comprovado: o tempo é uma questão de percepção emocional. Ele demora ou acelera conforme nos relacionamos afetivamente com ele.

Uma boa quinta-feira, que dure apenas vinte e quatro horas para todos!



DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Rubem Braga (99 anos)

Rubem Braga nasceu em Cachoeiro de Itapemirim a 12 de janeiro de 1913 e morreu no Rio de Janeiro a 19 de dezembro de 1990. Foi um escritor lembrado como um dos melhores cronistas brasileiros. Iniciou-se no jornalismo profissional ainda estudante, aos 15 anos, no Correio do Sul, de Cachoeiro de Itapemirim, fazendo reportagens e assinando crônicas diárias no jornal Diário da Tarde. Formou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Belo Horizonte em 1932, mas não exerceu a profissão. Neste mesmo ano, cobriu a Revolução Constitucionalista deflagrada em São Paulo, na qual chegou a ser preso. Transferindo-se para Recife, dirigiu a página de crônicas policiais no Diário de Pernambuco. Nesta cidade, fundou o periódico “Folha do Povo”. Em 1936 lançou seu primeiro livro de crônicas, O Conde e o Passarinho, e fundou, em São Paulo, a revista Problemas, além de outras. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como correspondente de guerra junto à Força Expedicionária Brasileira.[1]


[1] RUBEM BRAGA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Braga. acesso em 12 jan 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin, desde Frederico Westphalen, onde cinco séculos de sono me fizeram duas horas distante do hotel.
    Ontem, de repente — por obra e graça do deus Morfeu: o filho de Hipnos, que cuida de nosso sono — estava em Irai. Este imprevisto tece o blogue — mestrechassot. blogspot.com — de hoje.
    Com estima e uma boa quinta-feira.
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    a gente não se preocupa muito com os deuses da mitologia grega, mas que eles estão aí, estão e fazem as piores estrepolias. Que bom que estás de volta à Frederico.

    Um abraço,

    Garin

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