segunda-feira, 11 de julho de 2011

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Nesta segunda-feira, trago à reflexão dos leitores(as), o artigo do escritor Luiz Carlos da Cunha, sobre o polêmico tema da liberdade de expressão. O artigo foi publicado na edição de ontem de Zero Hora e levanta um importante questionamento: temos liberdade de expressão para levantar novos questionamentos? Temos liberdade de expressão na universidade?

Nessa direção acrescentaria algumas outras questões: na sociedade em geral, podemos pensar livremente e publicar nossa posição? Uma sociedade democrática pode conceder liberdade de expressão sem censura? Isso é perigoso para a integridade das instituições? A liberdade de expressão no meio científico não ajudaria a avançar nossos conhecimentos? Quem teria competência para cercear essa liberdade?

Transcrevo a seguir, o artigo referido acima:

Censores da liberdade de pensamento[1]
por Luiz Carlos da Cunha (Escritor)
 “A gênesis das raças mestiças do Brasil é um problema que muito tempo ainda desafiará o esforço dos melhores espíritos.” Euclydes da Cunha (Os Sertões)

Zero Hora trouxe a público curioso episódio acadêmico ocorrido no curso de História da UFRGS. Trabalho escolar em que o autor expôs sua tese sobre as causas das diferenças culturais e raciais que determinam qualidades de pessoas ou grupos causou tal rebuliço que, em vez de deflagrar um seminário de altos estudos, terminou em caso de polícia. Destaca-se no lamentável episódio, independente do acerto ou falsidade da tese, a reação patrulhadora do pensamento. Alguns se arvoram em fiscais da “política correta” no entender a natureza. Todos devem se enquadrar no modelo por eles assumido. Nas ciências matemáticas, biológicas e, de relevo, as chamadas humanas, não existe uma só resposta definitiva e eterna a problemas. Na arcada universitária situam-se a atmosfera protetora do contraditório, o embate das ideias e a liberdade de pensar. Se isto não existir, não há clima científico. O livre pensar e de expressão amalgamou as nações mais produtivas e democráticas na era moderna. Esculpiu o mundo moderno que reconhecemos enfático – a civilização ocidental. As teorias raciais, apontando nas raças as diferenças qualitativas da espécie humana, surdiram fortes nos séculos 18 e 19, justamente na França e Inglaterra – nações colonialistas à época. As explicações sobre os fenômenos sociais e econômicos que marcaram saltos de qualidade criadora na história da civilização, nas ciências e nas artes, são díspares e, muitas vezes, eivadas de tiques nacionalistas, torcidas pelo vezo político, tendenciosas pelo cunho religioso. Não há respostas matemáticas na interpretação da história. O que fez a grandeza da Grécia Clássica? A raça? Por que em cinco séculos reuniu a pujança filosófica que forjou o pensamento ocidental até o presente?
E como explicar a glória do Renascimento Italiano? Seria um fator genético? Que razões distingue no cinquecento reunir gênios de Galileu a Da Vinci? Uma casualidade geográfica? E a Revolução Industrial irrompida na Inglaterra, alastrando-se pela Europa e atingindo a culminância criativa na América, lista centenas de interpretações díspares, ora eivadas de tiques nacionalistas, ora obscurecidas pelo vezo político ou religioso. O que paralisou a África no atraso? Estudar e pesquisar as razões da enorme distância cultural e socioeconômica que nos separa das nações africanas, ou mesmo as propriedades cerebrais de uma raça e outra, são estímulos de interesse científico, cujo conhecimento pode contribuir à evolução e ao aprimoramento da humanidade. A tese provocadora daquele estudante pode ser resumida na opção do fator determinante (entre muitos) que diferencia as raças humanas: 1 – Fator genético e, portanto, hereditário; ou, 2 – Cultural, desenhado pelo meio ambiente. Ambas interpretações reúnem vasta bibliografia e experimentos acadêmicos, notadamente em universidades americanas. Murray e Herrnstein respondem pela primeira. O meio ambiente influindo na inteligência tem a melhor expressão no “efeito Flynn” – tese do psicólogo neozelandês que mostra a ascendência do QI em todo mundo. As afirmações do aluno, pomo da discórdia, antes de criminalização, merecem pelo desafio instigante desencadear um fórum de confrontos conceituais. Reunir expoentes cientistas, algum do quilate de James Watson ou Francis Crick – descobridores da estrutura do DNA. Prêmios Nobel de Medicina de 1968. Jamais se admite no bojo universitário condenar o aluno ousado pela livre expressão de seu pensamento. Desmereceria a Universidade.


DESTAQUE DO DIA
Nascimento de Carlos Gomes[1]

Antônio Carlos Gomes, nasceu em Campinas, SP, em 11 de julho de 1836 e faleceu em Belém, PA, em 16 de setembro de 1896, compositor brasileiro que se destacou com brilhantismo na Europa e autor da famosa ópera, “O Guarani”, baseada no romance homônimo de José de Alencar. Faz 175 anos do seu nascimento.





[1] Ilustração disponível em http://www.casalevydepianos.com.br/historia/carlos-gomes. acesso em 09 jul 2011.

3 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    depois do artigo que ofereces a reflexão vou a evocação do destaque do dia – preciosidade que recém inseriste às tuas reflexões diárias –, para apontar um coincidência familiar: os 175 anos de Carlos Gomes coincidem com o 105º aniversário de meu pai que evoco hoje. Como escreveu desde a Turquia no meu blogue o Paulo Marcelo: ‘Só estão mortos verdadeiramente aqueles que são esquecidos”. Carlos Gomes e Afonso Oscar Chassot, estão vivos neste 11 de julho em nossos blogues.
    Com admiração.
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    é por isso que precisamos fazer uma reflexão bem fundamentada sobre osignificado da morte. Minha primeira questão é sobre o que realmente é a morte? A física? A mental? A intelectual? E a emocional, existe?

    Um abraço,

    Garin

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  3. "E como explicar a glória do Renascimento Italiano?
    Seria um fator genético?
    Que razões distingue no cinquecento reunir gênios de Galileu a Da Vinci? Uma casualidade geográfica?
    E a Revolução Industrial(...)?
    O que paralisou a África no atraso?
    Tenho resposta para a última pergunta: primeiro as armas e em segundo as falácias iluministas promovidas pelas elites burguesas, ambas européias. A África, e cada nação, deve viver sua própria história.
    Para as anteriores, o autor poderia nos explicar o que ele denomina de "glória" que diferença elas fizeram para os povos de então,s e não após anos e anos de luta contra a opressão e genocídios das elites?

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