segunda-feira, 4 de junho de 2012

Belle Époque - ANO 02 – Nº 449


BELLE ÉPOQUE

Aproveitei o domingo para revisitar um filme que assisti com meus filhos ano passado. Acomodado no sofá foi bom rever Midnight in Paris (Meia noite em Paris) visto que permitiu ater-me aos detalhes dos personagens e da trama em si. O filme narra a trajetória de um personagem, Gil, que deseja se tornar um grande escritor de literatura e leva consigo, na viagem à Paris, o manuscrito de um grande romance. Enquanto isso não ocorre dedica-se a escrever roteiros para filmes de Hollywood. Quase todos os dias ele reescreve uma parte do romance para que fique ‘perfeito’, mas acaba sempre inseguro sobre a qualidade de sua obra.

Na noite de Paris ele sai pela cidade e, quando os relógios batem meia noite, passa um automóvel da década de 1920 que o leva para um encontro espetacular com a intelectualidade francesa daquela época. Em seu delírio, conversa com escritores, pintores e outros artistas até que encontra uma das amantes de Pablo Picasso apaixonada pela Belle Époque. Ao visitarem a intelectualidade do final do século dezenove, ela resolve ficar na Paris daquela fase e abandona o escritor visionário. Quando ele retorna aos anos vinte encontra outra mulher com quem se identifica caminhando sob a chuva, à margem do Sena.

A frustração do personagem não se prende ao fato de não conseguir escrever o seu romance perfeito, mas em não conseguir conviver com o seu tempo, desejando sempre uma época bem anterior, idealizada como a perfeita.

De certa maneira quase todos nós somos um Gil. Nossa tendência de encontrar o tempo perfeito localizado há décadas atrás, nos leva a querer fugir para ‘outro mundo’ no qual já são conhecidas as soluções e rotas de fugas. Através da história, colorida pela idealização, buscamos no passado a nossa perfeita realização. A antiga expressão ‘porque no meu tempo era diferente’ traduz bastante a dificuldade que enfrentamos com a complexidade dos tempos atuais. Mesmo que não carreguemos um Gil conosco, essa tentação à fuga para o conhecido, vez por outra nos acompanha como possibilidade de fuga.

Claro que isso não é reprovável. Todos necessitam de algum mecanismo de defesa no enfrentamento do existir cotidiano. Patológico seria a radicalidade em permanecer na belle époque recusando-se assumir a segunda-feira que está se iniciando, para a qual desejo votos de realizações humanas com um detalhe: no presente!
DESTAQUE DO DIA

Morte de Lukács (41 anos)

György Lukács ou Georg Lukács nasceu em Budapeste a 13 de abril de 1885 e morreu na mesma cidade a 4 de junho de 1971. Foi um filósofo húngaro de grande importância no cenário intelectual do século XX. Segundo Lucien Goldmann, Lukács refez, em sua acidentada trajetória, o percurso da filosofia clássica alemã: inicialmente um crítico influenciado por Kant, depois o encontro com Hegel e finalmente, a adesão ao marxismo. Escrito entre 1919 e 1922 e publicado em 1923, "História e Consciência" inicia a corrente de pensamento que passou a ser conhecida como marxismo ocidental. O livro é notável pela contribuição ao debate concernente à relação entre sociologia, política e filosofia com o marxismo e pela reconstituição da teoria marxista da alienação, antes dos escritos de juventude do jovem Marx terem sido publicados. O trabalho de Lukács elabora e expande-se sobre teorias marxistas tais como ideologia, falsa consciência, reificação e consciência de classe. Para Lukács, "ideologia" é realmente a projeção da consciência de classe da burguesia, que funciona para prevenir que o proletariado atente para a real consciência de sua posição revolucionária. A ideologia determina mais a "forma de objetividade" do que a estrutura do conhecimento por si mesmo.[1]


[1] GYORGY LUKACS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Gyorgy_Lukacs. Acesso em 4 jun 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    realmente elegeste um belo filme para inaugurar os domingos que já tem gosto de um inverno que está chegando. Quando o assisti também curti a viajada pela Paris do começo do (nosso) século 20.
    Um boa primeira semana junina,
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      aquele cara tinha uma imaginação a toda prova. Acho que acabou perdendo a noiva, o que foi um grande ganho.
      Um abraço,
      Garin

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