BELLE
ÉPOQUE
Aproveitei o domingo para revisitar um
filme que assisti com meus filhos ano passado. Acomodado no sofá foi bom rever Midnight in Paris (Meia noite em Paris)
visto que permitiu ater-me aos detalhes dos personagens e da trama em si. O filme
narra a trajetória de um personagem, Gil, que deseja se tornar um grande
escritor de literatura e leva consigo, na viagem à Paris, o manuscrito de um
grande romance. Enquanto isso não ocorre dedica-se a escrever roteiros para filmes
de Hollywood. Quase todos os dias ele reescreve uma parte do romance para que
fique ‘perfeito’, mas acaba sempre inseguro sobre a qualidade de sua obra.
Na noite de Paris ele sai pela cidade e,
quando os relógios batem meia noite, passa um automóvel da década de 1920 que o
leva para um encontro espetacular com a intelectualidade francesa daquela
época. Em seu delírio, conversa com escritores, pintores e outros artistas até
que encontra uma das amantes de Pablo Picasso apaixonada pela Belle Époque. Ao visitarem a
intelectualidade do final do século dezenove, ela resolve ficar na Paris
daquela fase e abandona o escritor visionário. Quando ele retorna aos anos
vinte encontra outra mulher com quem se identifica caminhando sob a chuva, à
margem do Sena.
A frustração do personagem não se prende ao
fato de não conseguir escrever o seu romance perfeito, mas em não conseguir
conviver com o seu tempo, desejando sempre uma época bem anterior, idealizada
como a perfeita.
De certa maneira quase todos nós somos um
Gil. Nossa tendência de encontrar o tempo perfeito localizado há décadas atrás,
nos leva a querer fugir para ‘outro mundo’ no qual já são conhecidas as
soluções e rotas de fugas. Através da história, colorida pela idealização,
buscamos no passado a nossa perfeita realização. A antiga expressão ‘porque no
meu tempo era diferente’ traduz bastante a dificuldade que enfrentamos com a
complexidade dos tempos atuais. Mesmo que não carreguemos um Gil conosco, essa
tentação à fuga para o conhecido, vez por outra nos acompanha como possibilidade
de fuga.
Claro que isso não é reprovável. Todos necessitam
de algum mecanismo de defesa no enfrentamento do existir cotidiano. Patológico seria
a radicalidade em permanecer na belle
époque recusando-se assumir a segunda-feira que está se iniciando, para a
qual desejo votos de realizações humanas com um detalhe: no presente!
DESTAQUE DO DIA
Morte de Lukács (41 anos)
György
Lukács ou Georg Lukács nasceu em Budapeste a 13 de abril de 1885 e morreu na
mesma cidade a 4 de junho de 1971. Foi um filósofo húngaro de grande
importância no cenário intelectual do século XX. Segundo Lucien Goldmann,
Lukács refez, em sua acidentada trajetória, o percurso da filosofia clássica
alemã: inicialmente um crítico influenciado por Kant, depois o encontro com
Hegel e finalmente, a adesão ao marxismo. Escrito entre 1919 e 1922 e publicado
em 1923, "História e Consciência" inicia a corrente de pensamento que
passou a ser conhecida como marxismo ocidental. O livro é notável pela
contribuição ao debate concernente à relação entre sociologia, política e
filosofia com o marxismo e pela reconstituição da teoria marxista da alienação,
antes dos escritos de juventude do jovem Marx terem sido publicados. O trabalho
de Lukács elabora e expande-se sobre teorias marxistas tais como ideologia,
falsa consciência, reificação e consciência de classe. Para Lukács,
"ideologia" é realmente a projeção da consciência de classe da
burguesia, que funciona para prevenir que o proletariado atente para a real
consciência de sua posição revolucionária. A ideologia determina mais a
"forma de objetividade" do que a estrutura do conhecimento por si
mesmo.[1]
Meu caro Garin,
ResponderExcluirrealmente elegeste um belo filme para inaugurar os domingos que já tem gosto de um inverno que está chegando. Quando o assisti também curti a viajada pela Paris do começo do (nosso) século 20.
Um boa primeira semana junina,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluiraquele cara tinha uma imaginação a toda prova. Acho que acabou perdendo a noiva, o que foi um grande ganho.
Um abraço,
Garin