O
DESAPARECIMENTO DE DEUS
Às vezes me surpreende como rendem as
leituras de esteira[1]. Ontem, por exemplo, percebi que já estou
chegando quase ao final de um livro de mais de trezentas páginas, lido
exclusivamente enquanto faço meus exercícios matinais. Reconheço que nem todos
têm essa facilidade: é música alta, gente conversando, outros contando piada e
rindo, há quem provoque barulho com os ferros quando termina sua série e por aí
afora. Entro para dentro do livro e vou percorrendo cada linha saltitando de
palavra em palavra. Quando me dou conta a esteira já está denunciando quarenta
e cinco minutos, uma hora...
Ontem, uma parte chamou minha atenção de
maneira especial. Falava sobre a forma como Deus, que aparece na Bíblia como
senhor todo poderoso, criador de todas as coisas, vai desaparecendo
gradativamente até sumir completamente:
Aí aos poucos, Ele vai desaparecendo e, no Novo
Testamento, desaparece por completo e manda
o
filho em forma humana – não é nem um anjo,
é uma
forma humana; uma coisa meio complicada
você ter um
Deus homem – e depois, puf, acabou. Some. E
aí reaparece
como uma internalização (não sei se esse é
o termo
teologicamente correto, mas é como vejo a
coisa),
quer dizer, Ele deixa de ser uma presença
explícita
– está lá o arbusto queimando ou o filho de
Deus –
A forma como o ser humano entende as
manifestações divinas se modificam na mesma proporção em que o contexto social
se altera. Em diferentes etapas da história a forma como lidamos com o sagrado muda
porque mudam as necessidades. Em meio à guerra sentia-se a necessidade de que fizesse
o sol parar para que os guerreiros tivessem mais tempo para realizar sua tarefa
de vingar-se dos inimigos[3]. Noutra época foi entendido como um pastor
que acalmava e consolava o povo preparando para um novo período de harmonia[4].
Chega o momento em que a percepção de uma
divindade assombrosa e de poder desaparecesse completamente para emergir na
forma de uma energia que nascia de dentro para fora em manifestações
desordenadas, revelando as entranhas de uma gente emocionada[5].
Quando conseguimos perceber essa multiforma
de apresentação do sagrado compreendemos um pouco mais as ansiedades do ser
humano em sua busca pela sua própria identidade.
Votos de uma terça-feira de reflexões sobre
si mesmo!
DESTAQUE DO DIA
Morte de
Stirner (156 anos)
Max Stirner, pseudônimo de Johann Kaspar
Schmidt, nasceu em Bayreuth a 25 de outubro de 1806 e morreu em Berlim a 26 de
junho de 1856. Foi um escritor e filósofo alemão, com trabalhos centrados no
existencialismo, niilismo e no Anarquismo individualista.
Egoísmo: somente quando as pretensas à falsa
autoridade de tais conceitos e instituições são revelados é que a verdadeira
ação, poder e identidade dos indivíduos podem emergir. A realização pessoal de
cada indivíduo se encontra no desejo de cada um em satisfazer seu egoísmo, seja
por instinto, sem saber, sem vontade - ou conscientemente, plenamente a par de
seus próprios interesses. A única diferença entre os dois egoístas é que o
primeiro estará possesso por uma ideia vazia, ou um espanto, na esperança de
que sua ideia o torne feliz, já o segundo, pelo contrário, será capaz de
escolher livremente os meios de seu egoísmo e perceber-se enquanto fazendo tal.
Somente quando o indivíduo percebe que lei,
direito, moralidade, religião, etc., são nada mais que conceitos artificiais e
não autoridades sagradas a serem obedecidas é que poderá agir livremente.
Argumenta-se que o egoísta de Stirner
exerceu enorme influência no homem para
além do homem de Nietzsche. O pensamento de Nietzsche às vezes lembra tanto
o de Stirner, que Eduard von Hartmann o chamou de plagiador.[6]
[1]
Leituras realizadas enquanto se faz caminhada sobre a esteira elétrica.
[2]
BETTO, Frei; GLESER, Marcelo; FALCÃO, Waldemar. Conversas sobre fé e ciênca. Rio de Janeiro: Agir, 2011, p. 278.
[3]
Js 10.12-15.
[4]
Is 40.1-3.
[5]
At 2.1-13.
[6]
MAX STIRNER. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Stirner.
Acesso em 26 jun 2012.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirpois na minha academia a um tempo resolveram 'modernizar' as esteiras,e as novas deixaram de ter o atril para postar o livro, Um retrocesso, pois considero o esteirar algo muito monótono.
Muito boas leituras,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirna minha academia também não há atril - posto o livro sobre aqueles relógios e o seguro com uma mão - é o jeito.
Um abraço,
Garin