terça-feira, 12 de junho de 2012

Coisa de adolescente - ANO 02 – Nº 457


COISA DE ADOLESCENTE

O debate sobre as expressões de personagens famosos a respeito do envelhecimento animou a turma de terceira idade da Universidade do Adulto Maior, do IPA. Visitamos expressões do diálogo de Ulisses falando com Aquiles, filho de Peleu, um pensamento de Demócrito de Abdera (460-370 a.C.), a conversa entre Sócrates e Céfalo e assim por diante. Entretanto, o que mais chamou a atenção da turma foi o pensamento de Cícero (106-43 a.C.):

“A velhice, com efeito, é honorável, contanto que se defenda
a si mesma, que mantenha seus direitos, que não se submeta
a ninguém e que até o derradeiro alento guarde seu império sobre
os seus. Assim como  estimo um adolescente no qual se encontra
algo de um velho, assim aprecio um ancião no qual se encontra
alguma coisa de um adolescente; aquele que seguir essa regra,
poderá ser velho de corpo, não o será jamais de alma”.[1]

Foto 1
Entre outras considerações, notou-se que lá na Roma clássica, a preocupação para com a defesa dos direitos dos idosos já era uma preocupação dos intelectuais da época. Percebemos assim, que em diferentes momentos da história da civilização humana, de forma especial, a civilização ocidental, a sociedade ora valorizou, ora diminuiu a importância dos idosos. Se Cícero se preocupava em apontar a necessidade de defender o direito da velhice é porque o cenário não era muito favorável a quem atingisse determinada idade.

Outra expressão que marcou o debate em aula foi a afirmativa sobre a apreciação do ancião no qual é possível encontrar “alguma coisa de um adolescente”. Nada é mais ranzinza do que conviver com alguém que passa a vida toda cobrando responsabilidade e se reportando ao passado como únicos valores que merecem ser cultivados. Não apenas fica chato como não constrói novas perspectivas. Não é porque a pessoa é idosa que não terá sonhos e projetos para construir seu existir.

É impossível viver olhando o presente como se fosse o seu último futuro. Carl Gustav Jung (1875-1961) já dizia: “Penso ser preferível para uma pessoa idosa continuar vivendo como se a vida não fosse acabar, aguardando o dia seguinte como se tivesse ainda muitos séculos pela frente”.[2] Mesmo que se tenha convicção de que os dias estão se acabando, não temos o direito de esperar o fim dos tempos para nós como se tudo já estivesse realizado. Conversei, um dia, com uma pessoa com mais de noventa anos, que queria saber minha opinião sobre os seus planos de abrir uma nova empresa.

Pois é, saí da aula confortado ao perceber que aquela turma, cuja idade média é de mais de setenta anos, olha para a vida com os olhos de quem não está disposto a se entregar. Muito pelo contrário, percebe a sua importância no cenário social e se reafirma enquanto pessoa individualmente.

Votos de uma ótima terça-feira!


[1] MASCARO, Sonia de Amorim. O que é velhice. São Paulo: Editora Brasiliense, 1998, p. 78.
[2] Idem, idem, p. 79.
Foto 1, disponível em https://encrypted-tbn0.google.com/images?q=tbn:ANd9GcSyFR1ZTSSnqqPzs6k7FLeduAeCNwb9_48lSalA33xh97c0zagi. Acesso em 12 jun 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    Estes relatos da UAM são ternos e de aumentar a expectativa de vida,
    Obrigado também por isso,
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      tenho certeza de que teus sonhos e projetos de vida alimentam as expectativas de um longo existir.
      Um abraço,
      Garin

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