SOBRE A
HORA
Ontem fui até ao relojoeiro buscar o
relógio que estava no conserto. Engraçado isso, não? Hoje a gente não conserta
mais os relógios. No meu caso, tratava-se do pino da pulseira que havia caído. Antigamente,
os relógios eram consertados de vez em vez. Eu mesmo, quando jovem, aprendi a
profissão de relojoeiro com um colega pastor da Igreja Batista. A maioria dos relógios
era movida à corda. Os mais chiques já eram automáticos. Tinham também os
despertadores que necessitavam de lubrificação regular. Na verdade, todos os
relógios recebiam lubrificação quando consertados e alguns paravam exatamente
por falta de uma minigota de óleo.
Pois é, ontem ficou pronta a pulseira do
meu relógio e aí fique pensando sobre essa nossa dependência deles. Especialmente
quando dou aulas sinto falta, gosto de conferir quanto tempo ainda tenho para
concluir os debates antes que o pessoal se “evapore” porta a fora. É compreensível
que a gente se administre pelo horário – faz parte da organização do tempo.
Entretanto, domingo passado aconteceu algo
que me chamou a atenção. Aparentemente foi um dia de preguiças e nada para
fazer, mas a todo o momento consultava o relógio de parede. A certa altura
minha esposa perguntou: a que horas é o teu compromisso? Quase zangado respondi
que não tinha compromisso nenhum. Dei-me por conta que o hábito de consultar o
relógio virou mania. Mesmo sem compromissos com hora marcada, fico sempre
querendo saber que horas são. Saber para nada. Pelo simples vício de consultar
o relógio a todo o momento.
Saí da sala e fui me refugiar nos meus botões.
Uma porção de fantasmas veio me fazer companhia. Entre eles a dúvida sobre a
minha sanidade mental. Juntou-se a essa, o avançar da idade! Será que o meu
prazo de validade já se foi? Vou ter que parar por aqui porque preciso olhar
que horas são!
Votos de uma quarta-feira de muitas
realizações a tempo e a fora de tempo!
DESTAQUE DO DIA
Cirilo de
Alexandria
Cirilo de Alexandria (c. 375-444) foi o
Patriarca de Alexandria quando a cidade estava no topo de sua influência e
poder dentro do Império Romano. Um dos Padres gregos, Cirilo escreveu
extensivamente e foi o protagonista liderante nas controvérsias cristológicas
do final do século IV e do século V. Foi uma figura central no Primeiro
Concílio de Éfeso, em 431, que levou à deposição de Nestório da posição de
Patriarca de Constantinopla. Cirilo é listado entre os Pais e os Doutores da
Igreja, e sua reputação no mundo cristão resultou em seus títulos: Pilar da Fé
e Selo de Todos os Pais. Entretanto, os bispos nestorianos no Concílio de Éfeso
o declararam um herético, rotulando-o como um "monstro, nascido e criado
para a destruição da Igreja".
A Igreja Ortodoxa e as igrejas orientais
celebram seu dia em 9 de junho e, junto com o Atanásio de Alexandria, em 18 de
janeiro. A Igreja Católica não o comemora no calendário tridentino; sua
celebração foi adicionada apenas em 1882, sendo 9 de fevereiro o seu dia.
Aqueles que usam calendários anteriores à revisão de 1969 ainda observam este
dia, mas a revisão atribuiu ao santo o dia 27 de junho, considerado o dia da
morte do santo. A mesma data foi escolhida para o calendário luterano. O Papa
Pio XII, em 9 de abril de 1944, por ocasião do XV centenário da morte de São
Cirilo, promulgou a encíclica Orientalis
Ecclesiae.
Cirilo foi um arcebispo erudito e um
escritor prolífico. Nos primeiros anos da sua vida ativa na Igreja, ele
escreveu exegeses diversas. Entre elas estavam: Comentários sobre o Antigo
Testamento, Thesaurus, discurso
contra Arianos, Comentário do Evangelho de João, e os Diálogos sobre a
Trindade. Em 429 as controvérsias cristológicas aumentaram sua produção de
textos, de modo que seus adversários não conseguiram acompanhar. Seus escritos
fazem frequentemente alusão às doutrinas dos demais Padres da Igreja.[1]
[1]
CIRILO DE ALEXANDRIA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Cirilo_de_Alexandria.
Acesso em 27 jun 2012.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirnão fosse a morte de George, o Solitário, ter alterado a pauta de meu blogue, um e outro teríamos o mesmo tema: o tempo. Claro que eu não falaria de vencimento de prazo de validade, pois tu como teólogo dizes que ‘não sabemos nem o dia nem hora’ para que estejamos preparados sempre. Logo não vou aderir as tuas divagações sobre envelhacimento, pois busco resistir a ele. Quem sabe isso me enseje a enganar (ou pelo menos protelar) a Traiçoeira.
Não posso silenciar ante tua omissão no panegírico à São Cirilo. Há uma nódoa irreparável em hagiografia. Ele foi um dos responsáveis por manipular a turba cristã contra Hipácia (os dois nasceram no mesmo ano) que a levou ao martírio com 45 anos. Custa-me a entender como quase um 1,5 milênio da morte de Cirilo a Igreja do Ocidente o faz doutor.
Há uma pecha dolorosa que pesa sobre teu laudado de hoje que precisa ser vituperada a cada oportunidade.
Com indignado protesto, a admiração do
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirquando se trata de História da Ciência, tu és imbatível. Acatados teus protestos. Também concordo que a Igreja, por se achar depositária do poder divino, atuou (e atua muitas vezes) como emissária do diabo.
Um abraço,
Garin