sábado, 2 de junho de 2012

Sem esperança - ANO 02 – Nº 447


SEM ESPERANÇA

Tinha uma reunião no IPA quase no final da tarde. Saí de casa um pouco mais cedo porque precisava fazer alguns contatos antes da reunião. Quando o portão da garagem se abriu olhei para a direita e verifiquei que no lado oposto da rua havia uma aglomeração de pessoas e uma viatura da Polícia Civil estacionada à frente de um edifício vizinho.

Como houvesse bastante trânsito naquela hora, cuidei o movimento e saí assim que foi possível. Fiz os contatos que planejara, participei da reunião que se estendera até às dezenove e trinta e voltei para casa.

Quando me dirigi para entrar no portão da garagem lembrei novamente da cena que presenciara ao sair. Encontrei um morador do meu edifício logo na entrada e, curioso, perguntei-lhe sobre o episódio. Tristemente ele informou que um vizinho do outro edifício havia se jogado do oitavo andar.

Essa notícia me impactou bastante. Os contextos das cidades contemporâneas têm atormentado seus habitantes. A competitividade, correria, solidão, frustrações acabam deixando de lado o perfil mais essencial de cada um de nós: o humano. As demandas atuais empurram as pessoas para a representação de papéis contraditórios e os antagonismos e incoerências solapam a personalidade do ser humano de tal sorte, que muitas vezes nos sentimos tudo, menos pessoas.

A tarefa de autoconstrução nem sempre conta com a contribuição social até mesmo daquele círculo mais intimo, a família. Muitas vezes o isolamento é tão brutal que não resta mais ao indivíduo, uma gota de esperança. As perspectivas se fecham e os horizontes se tornam obscuros e intransponíveis. Lamentavelmente, há pessoas que não conseguem superar essas barreiras cruéis que se interpõem entre o agora e o amanhã.

Não conhecia esse vizinho, nem sei quais eram os seus dramas e suas patologias, mas certamente estava envolto num quadro que não lhe restou outra porta de possibilidades a não ser o não existir.

Quero trazer à memória o que me pode
dar esperança. (Lm 3.21)

Com  votos de um sábado de reflexões!
DESTAQUE DO DIA

Morte de Garibaldi (130 anos)

Giuseppe Garibaldi nascee em Nice a 4 de julho de 1807 e morreu em  Caprera a 2 de junho de 1882. Foi um general, guerrilheiro, condottiero e patriota italiano. Foi alcunhado de "herói de dois mundos", devido à sua participação em conflitos na Europa e na América do Sul. Uma das mais notáveis figuras da unificação italiana, ao lado de Giuseppe Mazzini e do Conde de Cavour, Garibaldi dedicou sua vida à luta contra a tirania.

Residiu algum tempo no Rio de Janeiro, onde foi membro da Congrega della Giovine Itália, fundada por Giuseppe Stefano Grondona. Foi também no Rio de Janeiro conheceu Luigi Rossetti, com quem se juntou à Revolução Farroupilha. Também conheceu Bento Gonçalves ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteve dele uma carta de corso para aprisionar embarcações imperiais. Em 1° de setembro de 1838, Garibaldi foi nomeado capitão-tenente, comandante da marinha farroupilha. Rossetti e Garibaldi transformaram seu pequeno barco comercial Mazzini em corsário a serviço da República Rio-Grandense. No caminho para o sul, atacaram um navio austríaco, com uma carga de café, e trocaram de navio com seus ocupantes, rebatizando a nova embarcação de Farroupilha.

Em Laguna, Garibaldi ainda conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida depois como Anita Garibaldi, com quem se casaria e que se tornaria sua companheira de lutas na América do Sul e depois na Itália.[1]


[1] GIUSEPPE GARIBALDI. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Garibaldi#Brasil. Acesso em 2 jun 2012.

8 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    quando na noite de quinta-feira apeei de teu carro (para usar uma palavra de nossa história) depois de receber uma generosa carona, pensei (parece que não cheguei a te dizer) certamente o Pastor do cotidiano tirará desta viajada uma reflexão.
    Na tragédia de tua rua se cumpriu a predição.
    Um muito bom sábado, chegando do IPA, onde as aulas se encerraram mais cedo (12h) devido ao vestibular,
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      o pior é que essas tragédias, quando se dão próximo da gente, isso mexe demais conosco.
      Um abraço,

      Garin

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  2. Enquanto essas tragédia nós comovem ainda há esperanças. Me preocupa quando as pessoas começam a achar isso normal :(

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    1. Oi Janice,
      também concordo com a canção "...que a dor não me seja indiferente..."
      Um abraço,
      Garin

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  3. Prezado AMIGO Pr.Garin; quanto ao texto SEM ESPERANÇA, realmente me impressionou muito (e o acontecido não é uma novidade) mas pela PROPRIEDADE com que colocastes o quadro que leva uma pessoa a esse gesto extremo. Ele foi "empurrado sim"(embora não literalmente) para a queda, para a morte. Lembro da afirmação de JESUS, "No mundo tereis TRIBULAÇÕES (e eu já passei por tais experiências que me deixaram "muito pra baixo")mas Ele nos estimula a ter BOM ÂNIMO.No entanto, habitando num corpo HUMANO sentiu-se DESAMPARADO na Cruz.Só vejo uma SAÍDA (e tu mencionaste ESPERANÇA).Acrescento: Que EDIFIQUEMOS "NOSSA CASA" SOBRE A ROCHA, para resistir a todos os embates da vida e não desmoronar.Abraço do Paulo Garcia

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    1. Oi Paulo,
      essa rocha tem um nome: "fé"; somente ela é capaz de nos conduzir à esperança e somente nela vislumbramos o Cristo.
      Um abraço,
      Garin

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  4. Garin, amigo querido, tua postagem me remeteu como uma flecha à Vinícius de Moraes:
    Um homem chamado Alfredo

    O meu vizinho do lado
    Se matou de solidão
    Ligou o gás, o coitado
    Último gás do bujão
    Porque ninguém o queria
    Ninguém lhe dava atenção
    Porque ninguém mais lhe abria
    As portas do coração
    Levou com ele seu louro
    E um gato de estimação

    Há tanta gente sozinha
    Que a gente mal adivinha
    Gente sem vez para amar
    Gente sem mão para dar
    Gente que basta um olhar
    Quase nada
    Gente com os olhos no chão
    Sempre pedindo perdão
    Gente que a gente não vê
    Porque é quase nada

    Eu sempre o cumprimentava
    Porque parecia bom
    Um homem por trás dos óculos
    Como diria Drummond
    Num velho papel de embrulho
    Deixou um bilhete seu
    Dizendo que se matava
    De cansado de viver
    Embaixo assinado Alfredo
    Mas ninguém sabe de quê

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    1. Querida Rejane,
      bonito apropriado poema do Vinícios para tão brutal realidade. É impressionante como tantas vezes "cumprimentamos" pessoas com um "tudo bem?!" querendo que ela não nos responda (não queremos nos envolver!). Não imaginamos seus dilemas, suas dores e angústias e nem queremos que ela nos conte - não temos tempo para isso! O drama do ser humano continua a ser a ausência do humano, nos outros e em nós.
      Um beijo,

      Garin

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