SEM ESPERANÇA
Tinha uma reunião no IPA quase no final da
tarde. Saí de casa um pouco mais cedo porque precisava fazer alguns contatos
antes da reunião. Quando o portão da garagem se abriu olhei para a direita e
verifiquei que no lado oposto da rua havia uma aglomeração de pessoas e uma
viatura da Polícia Civil estacionada à frente de um edifício vizinho.
Como houvesse bastante trânsito naquela
hora, cuidei o movimento e saí assim que foi possível. Fiz os contatos que
planejara, participei da reunião que se estendera até às dezenove e trinta e
voltei para casa.
Quando me dirigi para entrar no portão da
garagem lembrei novamente da cena que presenciara ao sair. Encontrei um morador
do meu edifício logo na entrada e, curioso, perguntei-lhe sobre o episódio. Tristemente
ele informou que um vizinho do outro edifício havia se jogado do oitavo andar.
Essa notícia me impactou bastante. Os contextos
das cidades contemporâneas têm atormentado seus habitantes. A competitividade,
correria, solidão, frustrações acabam deixando de lado o perfil mais essencial
de cada um de nós: o humano. As demandas atuais empurram as pessoas para a
representação de papéis contraditórios e os antagonismos e incoerências solapam
a personalidade do ser humano de tal sorte, que muitas vezes nos sentimos tudo,
menos pessoas.
A tarefa de autoconstrução nem sempre conta
com a contribuição social até mesmo daquele círculo mais intimo, a família. Muitas
vezes o isolamento é tão brutal que não resta mais ao indivíduo, uma gota de
esperança. As perspectivas se fecham e os horizontes se tornam obscuros e
intransponíveis. Lamentavelmente, há pessoas que não conseguem superar essas
barreiras cruéis que se interpõem entre o agora e o amanhã.
Não conhecia esse vizinho, nem sei quais
eram os seus dramas e suas patologias, mas certamente estava envolto num quadro
que não lhe restou outra porta de possibilidades a não ser o não existir.
Quero trazer à memória
o que me pode
dar esperança. (Lm
3.21)
Com votos de um sábado de reflexões!
DESTAQUE DO DIA
Morte de Garibaldi (130 anos)
Giuseppe
Garibaldi nascee em Nice a 4 de julho de 1807 e morreu em Caprera a 2 de junho de 1882. Foi um general,
guerrilheiro, condottiero e patriota
italiano. Foi alcunhado de "herói de dois mundos", devido à sua
participação em conflitos na Europa e na América do Sul. Uma das mais notáveis
figuras da unificação italiana, ao lado de Giuseppe Mazzini e do Conde de
Cavour, Garibaldi dedicou sua vida à luta contra a tirania.
Residiu
algum tempo no Rio de Janeiro, onde foi membro da Congrega della Giovine Itália, fundada por Giuseppe Stefano
Grondona. Foi também no Rio de Janeiro conheceu Luigi Rossetti, com quem se
juntou à Revolução Farroupilha. Também conheceu Bento Gonçalves ainda em sua
prisão, no Rio de Janeiro, e obteve dele uma carta de corso para aprisionar
embarcações imperiais. Em 1° de setembro de 1838, Garibaldi foi nomeado
capitão-tenente, comandante da marinha farroupilha. Rossetti e Garibaldi
transformaram seu pequeno barco comercial Mazzini em corsário a serviço da
República Rio-Grandense. No caminho para o sul, atacaram um navio austríaco,
com uma carga de café, e trocaram de navio com seus ocupantes, rebatizando a
nova embarcação de Farroupilha.
Em
Laguna, Garibaldi ainda conheceu Ana Maria de Jesus Ribeiro, conhecida depois
como Anita Garibaldi, com quem se casaria e que se tornaria sua companheira de
lutas na América do Sul e depois na Itália.[1]
[1]
GIUSEPPE GARIBALDI. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Giuseppe_Garibaldi#Brasil.
Acesso em 2 jun 2012.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirquando na noite de quinta-feira apeei de teu carro (para usar uma palavra de nossa história) depois de receber uma generosa carona, pensei (parece que não cheguei a te dizer) certamente o Pastor do cotidiano tirará desta viajada uma reflexão.
Na tragédia de tua rua se cumpriu a predição.
Um muito bom sábado, chegando do IPA, onde as aulas se encerraram mais cedo (12h) devido ao vestibular,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluiro pior é que essas tragédias, quando se dão próximo da gente, isso mexe demais conosco.
Um abraço,
Garin
Enquanto essas tragédia nós comovem ainda há esperanças. Me preocupa quando as pessoas começam a achar isso normal :(
ResponderExcluirOi Janice,
Excluirtambém concordo com a canção "...que a dor não me seja indiferente..."
Um abraço,
Garin
Prezado AMIGO Pr.Garin; quanto ao texto SEM ESPERANÇA, realmente me impressionou muito (e o acontecido não é uma novidade) mas pela PROPRIEDADE com que colocastes o quadro que leva uma pessoa a esse gesto extremo. Ele foi "empurrado sim"(embora não literalmente) para a queda, para a morte. Lembro da afirmação de JESUS, "No mundo tereis TRIBULAÇÕES (e eu já passei por tais experiências que me deixaram "muito pra baixo")mas Ele nos estimula a ter BOM ÂNIMO.No entanto, habitando num corpo HUMANO sentiu-se DESAMPARADO na Cruz.Só vejo uma SAÍDA (e tu mencionaste ESPERANÇA).Acrescento: Que EDIFIQUEMOS "NOSSA CASA" SOBRE A ROCHA, para resistir a todos os embates da vida e não desmoronar.Abraço do Paulo Garcia
ResponderExcluirOi Paulo,
Excluiressa rocha tem um nome: "fé"; somente ela é capaz de nos conduzir à esperança e somente nela vislumbramos o Cristo.
Um abraço,
Garin
Garin, amigo querido, tua postagem me remeteu como uma flecha à Vinícius de Moraes:
ResponderExcluirUm homem chamado Alfredo
O meu vizinho do lado
Se matou de solidão
Ligou o gás, o coitado
Último gás do bujão
Porque ninguém o queria
Ninguém lhe dava atenção
Porque ninguém mais lhe abria
As portas do coração
Levou com ele seu louro
E um gato de estimação
Há tanta gente sozinha
Que a gente mal adivinha
Gente sem vez para amar
Gente sem mão para dar
Gente que basta um olhar
Quase nada
Gente com os olhos no chão
Sempre pedindo perdão
Gente que a gente não vê
Porque é quase nada
Eu sempre o cumprimentava
Porque parecia bom
Um homem por trás dos óculos
Como diria Drummond
Num velho papel de embrulho
Deixou um bilhete seu
Dizendo que se matava
De cansado de viver
Embaixo assinado Alfredo
Mas ninguém sabe de quê
Querida Rejane,
Excluirbonito apropriado poema do Vinícios para tão brutal realidade. É impressionante como tantas vezes "cumprimentamos" pessoas com um "tudo bem?!" querendo que ela não nos responda (não queremos nos envolver!). Não imaginamos seus dilemas, suas dores e angústias e nem queremos que ela nos conte - não temos tempo para isso! O drama do ser humano continua a ser a ausência do humano, nos outros e em nós.
Um beijo,
Garin