A RECONSTRUÇÃO
Acordei aos poucos enquanto as imagens na
mente se misturavam entre épocas e locais distintos e distantes. É bom acordar
assim, sem sobressaltos, sem pesadelos, suavemente. Por vezes as imagens se
intercalavam delineando cenários impossíveis, surrealistas. De outra sorte, era
possível acompanhar como pareciam perfeitas, adequadamente localizadas no tempo
e no espaço.
Entre essas, a imagem do prédio do
internato onde morei por quatro anos repletos de experiências e sentimentos
gratificantes. Através dela, conseguia percorrer o trajeto que separava o prédio
das aulas até o meu quarto, no segundo piso, sobre o campanário. Era ele quem
nos despertava diariamente às seis horas. Implacável, distava cerca de oito
metros da minha cama. Não havia como permanecer dormindo depois da primeira
badalada, quase dentro do quarto. Tinha manhãs que a Dna. Maria não cansava de
badalar aquele sino! Como um eco, os ouvidos continuavam retinindo por vários
minutos.
Da janela era possível enxergar o campo de
futebol, o jardim do internato que ajudava a cuidar, a entrada da cozinha e o
prédio do ‘científico’, onde os finalistas eram alojados. Descendo a escadaria de
madeira havia um vestíbulo no qual nos reuníamos antes das refeições aguardando
que o Prof. Kneipp abrisse a porta do refeitório. A turma de internos,
comumente ‘verde’ de fome, adentrava o recinto e se alojava ao redor das mesas
em grupo de oito. Numa cabeceira sentava o ‘presidente’ e na cabeceira oposta,
o ‘vice’. Todos se serviam e os bifes que restavam na bandeja eram sorteados.
À frente do internato havia um pequeno
pátio calçado no qual todos nos reuníamos após o almoço de sábado. Quem tivesse
tirado boas notas no mês anterior e comportamento adequado, segundo o
julgamento do Diretor, tinha o direito à ‘saída’, que se constituía na
liberdade para passear pela cidade entre às 13h e às 22h. Essa saída era
simbolizada por uma ficha de latão com o número correspondente. A minha tinha o
nº 35. Antes da liberação dos números havia a expectativa se o Diretor iria
chamar o nosso número. Do contrário, significava todo o fim de semana recluso
no recinto do internato.
O prédio do internato se incendiou na década
de 1990 e agora é apenas um terreno baldio, mas a memória tem a capacidade de
reconstruir todo o edifício, com seus detalhes das paredes em terracota com
filetes pintados em branco. Os azulejos do refeitório em amarelo e as mesas
pintadas de verde. Não há particularidade que a memória deixe escapar mesmo
depois de quarenta e quatro anos de distância. Caso tivesse a habilidade da
arquitetura conseguiria redesenhar tudo sem esquecer a pedra lascada da
escadaria interna sob o campanário.
Votos de uma sexta-feira de lembranças
reconstrutivas!
DESTAQUE DO DIA
Dia Thomas
Morus
Sir Thomas More, por vezes latinizado em
Thomas Morus ou aportuguesado em Tomás Morus (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 —
Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado
e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532,
o cargo de "Lord Chancellor"
(Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da
Inglaterra.
É geralmente considerado como um dos grandes
humanistas do Renascimento. Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 9
de Maio de 1935 e sua festa litúrgica se dá em 22 de Junho.
More foi convocado, excepcionalmente, para
fazer o juramento em 17 de abril de 1534, e, perante sua recusa, foi preso na
Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John Fisher,
tendo ali escrito o "Dialogue of
Comfort against Tribulation". A sua decisão foi manter o silêncio
sobre o assunto. Pressionado pelo rei e por amigos da corte, More decidiu não
enumerar as razões pelas quais não prestaria o juramento.
Inconformado com o silêncio de More, o rei
determinou o seu julgamento, sendo condenado à morte, e posteriormente
executado em Tower Hill a 6 de Julho.
Nem no cárcere nem na hora da execução perdeu a serenidade e o bom humor e,
diante das próprias dificuldades reagia com ironia.
Pela sentença o réu era condenado "a
ser suspenso pelo pescoço" e cair em terra ainda vivo. Depois seria
esquartejado e decapitado. Em atenção à importância do condenado o rei,
"por clemência", reduziu a pena a "simples decapitação". Ao
tomar conhecimento disto, Tomás comentou: "Não permita Deus que o rei
tenha semelhantes clemências com os meus amigos." No momento da execução
suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que "morria como
bom servidor do rei, mas de Deus primeiro.”.
A sua cabeça foi exposta na ponte de Londres
durante um mês, foi posteriormente recolhida por sua filha, Margaret Roper. A
execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535
"antes das nove horas", ordenada por Henrique VIII, foi considerada
uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem
de honra, consequência de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei.
Ele está sepultando na Capela Real de São Pedro ad Vincula.[1]
Meu caro Garin,
ResponderExcluirteus sonhos/realidades se misturam com utopias como as ensinadas por Morus.
Até breve na PUC,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluiré fantástico o poder da memória para reconstruir cenários passados.
Obrigado,
Um abraço.