PASSO Nº 1
Nem sempre é fácil dar o primeiro passo. Lembro-me
das experiências com os meus filhos naquela fase de passar do engatinhar para
ficar em pé sobre suas pernas. As tentativas eram inúmeras como inúmeras eram
as quedas. Todos os recomeços dessa experiência eram trabalhosos porque a
criança era tentada a continuar engatinhando. Essa tendência tinha uma lógica:
era o que ela sabia fazer e na qual se sentia mais segura. Por outro lado,
quando descobria a possibilidade de andar sobre seus próprios pés, encontrava
uma alegria imensa, pois sua visão e autonomia se ampliavam consideravelmente.
Estava conversando com um aluno que deseja começar
seu trabalho acadêmico, mas ainda está engatinhando sobre esse terreno. Procurei
escutar suas expectativas em relação àquilo que pretende construir em seu
projeto de pesquisa. Como é comum, ele tem muitas ideias, comenta diversos
assuntos, fala da literatura que tem visitado, menciona aulas que lhe
impressionaram, conferências que lhe impactaram, mas não tem clareza sobre o
caminho que deve tomar. Como uma criança que quer se firmar em pé, vibra com a
visão das muitas coisas que vê ao redor, mas volta a cair porque ainda lhe
falta equilíbrio.
Ponderei, com ele, todas as coisas que lhe
encantaram na trajetória acadêmica, o que mais mexeu com o seu coração durante
o período da formação. Aos poucos ele percebeu que, em tudo o que falara, se
descortinava um fio comum conduzindo seu andar intelectual e prático. Então lhe
disse: coloca essas coisas num texto e apresenta para o teu orientador.
Isso não acontece apenas no meio acadêmico.
Acontece em todos os seguimentos do existir humano. É muito comum termos
clareza sobre as coisas que nos encantam, que mexem com as nossas emoções, que
fazem nossos olhos brilhar, mas nem sempre conseguimos dar o primeiro passo,
aquele que faz o ‘bebê’ vibrar de alegria. Sabemos o que queremos, mas não
conseguimos estabelecer a linha por onde fazer andar nosso querer.
Nem sempre essa descoberta acontece
sozinha. Assim como o bebê, que necessita do incentivo dos seus pais ou de
outros familiares, precisamos do ‘encontro’ com o outro. A convivência social nos
permite externar as ideias e, pelo falar e ouvir de nós mesmos e dos outros, pode
se descortinar a trajetória a seguir que dará vazão e concretude ao querer. Pelo
ouvir e pelo falar damos início aos nossos projetos, construímos nosso andar no
existir.
Com votos de uma ótima quarta-feira!
DESTAQUE DO DIA
Abertura da Rio+20
Acontece
hoje, no Rio de Janeiro, a abertura da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. Há um clima de dúvidas sobre os
resultados desse encontro posto que cercado de interesses políticos e
empresariais. Entretanto, acontecem debates e conferências cuja preocupação sincera
é a construção de uma forma equilibrada de convivência com a natureza.
Quem sabe
não é dessa vez que serão assinados aqueles acordos espetaculares que mudarão
radicalmente a visão dos habitantes da Terra sobre as precariedades e
potencialidades da natureza. Contudo, precisamos acreditar em avanços
significativos sobre a construção de um outro mundo possível, autossustentável,
com equilíbrio entre consumo e benefícios, considerando dois polos até agora
distantes: ser humano e natureza. Também aqui é necessário acrescentar uma
pitada de fé!
Muito estimado Garin,
ResponderExcluirvou despir-te, hoje, do título que tantas vezes te outorguei (Pastor do cotidiano.
Tua prédica de hoje te confere o epíteto de 'discípulo da realidade'.
A tua fé quanto a Rio+20 é o que chamei na minha blogada de hoje de 'Pensamento Mágico. Estamos usando dois óculos e provavelmente vemos igual!
Com admiração
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirde fato, as possibilidades da Rio+20 deverão ser resultados de muitas construções e arranjos politicamente negociados. Como em tudo construído, o elemento da esperança sempre aparece.
Um abraço,
Garin