COISAS QUE NÃO SE ESPERA
Um dia desses, conversando com um aluno no
corredor depois da aula, ele me fez uma pergunta a qual não esperava. Sabem aquele
tipo de pergunta que te desconcerta? Não estou me referindo a questões
indiscretas, mas àquelas questões para as quais a gente não está preparada, de
pronto, para responder. Entretanto, era uma pergunta com a qual havia lidado a
maior parte da minha vida.
O engraçado é que são justamente essas
questões que embaraçam a gente. Você não tem como não responder e não tem uma
resposta pronta. Não tem como não responder porque faz parte do teu metier e negar-lhe uma resposta
confessaria toda a sua incompetência vital. Não se tem uma resposta pronta
porque, simplesmente, não existem respostas prontas. Elas carecem do contexto e
esse muda com o tempo e com o lugar.
Assim, não tinha como escapar quando ele me
perguntou sobre o que afinal mesmo é a fé. Ele mesmo acrescentou algumas
tentativas de respostas, como se seria uma predisposição da consciência, ou uma
predeterminação do indivíduo?
Fiz um sinal com a mão para que parássemos
a caminhada, não porque a resposta exigisse um ar de solenidade, mas muito mais
para que eu pudesse pensar na resposta. Não poderia ser qualquer resposta. Estava
diante de um dilema: poderia ser uma questão que tentava me envolver na dimensão
teísmo/ceticismo, ou poderia ser um dilema existencial que ele estivesse
experimentando. Precisava olhar em seus olhos e tentar descobrir onde residia
sua dúvida, se estava localizada na mente ou se ela se alojava no coração.
Caso se alojasse na mente deveria dar um
tipo de resposta. Uma resposta que alimentasse a razão sedenta de
questionamentos que o encaminharia a novas dúvidas. Caso se alojasse no coração
deveria responder com o cuidado necessário para alimentar sua crença, aquela
que é subjetiva, mas que necessita de respostas absolutas.
Por um instante, procurei no seu olhar a
motivação de sua inquietude e percebi que desejava algo para ancorar seu humano
existir. Diante dessa constatação não havia outra resposta a não ser dizer-lhe:
a fé é a esperança. Só conseguimos crer em alguma coisa ou em um ser maior que
tudo o que conhecemos, quando percebemos, um pouco adiante, um desafio que nos
espera e para o qual é aguardada a nossa participação. A fé significa a
capacidade humana de vislumbrar o invisível e de aguardar aquilo que não está
garantido.
Ora a fé é a certeza
das cousas que
se esperam, a
convicção dos fatos
que se não veem. (Hb
11.1)
Votos de um bom domingo!
DESTAQUE DO DIA
Morte de Kafka (88 anos)
Franz
Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883 e morreu em Klosterneuburg a 3 de
junho de 1924. Foi um dos maiores escritores de ficção da língua alemã do
século XX. A escrita de Kafka é marcada pelo seu tom despegado, imparcial,
atenciosa ao menor detalhe, e abrange os temas da alienação e perseguição. Os
seus trabalhos mais conhecidos são as pequenas histórias A Metamorfose, Um
artista da fome e os romances O Processo, América e O Castelo. Os seus contos
são julgados como verdadeiros e realistas, em contato com o homem do século
XXI, pois os personagens kafkianos sofrem de conflitos existenciais, como o
homem de hoje. No mundo kafkiano, os personagens não sabem que rumo podem
tomar, não sabem dos objetivos da sua vida, questionam seriamente a existência
e acabam sós, diante de uma situação que não planejaram, pois todos os
acontecimentos se viraram contra eles, não lhes oferecendo a oportunidade de se
aproveitar da situação e, muitas vezes, nem mesmo de sair dela. A temática da
solidão como fuga, a paranoia e os delírios de influência estão muito ligados à
obra kafkiana, sendo comum a existência de personagens secundários que espiam,
e conspiram contra o protagonista das histórias de Kafka.[1]
[1]
FRANZ KAFKA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka#Estilo_liter.C3.A1rio.
Acesso em 3 jun 2012.
Meu amigo,
ResponderExcluirquase kafkiana a definição: A FÉ É A ESPERANÇA.
Nada mais apropriado para um domingo tão lindo,
atchasso
Amigo Chassot,
Excluirpois é, diante das circunstâncias, o melhor que podia fazer era alimentar a alma de quem estava um tanto claudicantes em sua tenra idade.
Abraços,
Garin