ENCARANGADO
Acho que todo o mundo tem uma história de
inverno. Quem sabe não uma, mas muitas! Para quem vive (em alguns casos,
sobrevive) no inverno do hemisfério sul sabe que por aqui há dias muito frios,
outros, gelados. O pior de todos, aqui no Rio Grande do Sul, é quando o dia
amanhece nublado e soprando o Minuano, um vento frio que sobe da Antártica
soprando do quadrante sudoeste. Chega após uma frente fria ou depois de chuvas
geladas. O nome do vento é uma atribuição aos minuanos, uma tribo de índios originários
da Patagônia argentina que habitava o pampa[1] gaúcho.
Pois a história que trago aqui está quase perdida
nas coxilhas da memória, mas aconteceu entre 1956 e 1958. Todas as madrugadas
acordava muito cedo para ajudar na ordenha manual das vacas e entrega do leite.
Foi um inverno com frio de lascar, que nem os cuscos[2] rengueavam porque se escondiam nos
galpões, enrolados nos pelegos.
Tiramos o leite das vacas, coloquei os arreames[3] sobre o cavalo e atrelei-o à carroça. Carregamos
os toneis de leite e toquei o animal em direção à estrada por onde passaria o
caminhão que levava o leite até ao laticínio. Postado à margem da estrada,
olhando ansioso para a esquerda espreitava a coxilha na expectativa que
aparecesse o “bendito caminhão”. O tempo foi passando e, ao invés do caminhão,
o minuano começou a assoviar nas orelhas. A gente não tinha informações
precisas, mas acho que a temperatura, em campo aberto, estava ao redor de -5º,
mas a sensação térmica era bem menor que isso. Acho que o caminhão atrasou mais
de uma hora.
Entreguei o leite e subi na carroça para
voltar. Foi nessa hora que parei de sentir as mãos. Toquei o cavalo manso
apenas com um grito “vamos”. Quando chegamos à cancela[4] consegui apenas abri-la por onde entremos
e depois subi da carroça, enrijecido. O cavalo andou sozinho e parou em frente
à nossa casa. Meu pai teve que me ajudar a descer da carroça.
Como prêmio, tive o direito de passar toda
a manhã à frente do fogão à lenha. Quando comecei a me aquecer, a dor foi tão
forte que parecia que até os ossos doíam. Já faz mais de cinquenta anos, mas
consigo reviver aquele dia no qual encaranguei pela primeira vez.
Votos de um frio inverno para todos(as),
mas com muito calor humano!
DESTAQUE DO DIA
Chegada do
Inverno Austral
Iluminação da Terra no Solstício de Inverno |
Hoje inicia o Inverno Austral, ou seja, no
hemisfério sul, marcado pelo solstício de inverno (do latim sol + sistere, que não se mexe) é o momento em
que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior
declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios
ocorrem duas vezes por ano: em dezembro e em junho. O dia e hora exatos variam
de um ano para outro. Quando ocorre no verão significa que a duração do dia é a
mais longa do ano. Analogamente, quando ocorre no inverno, significa que a
duração da noite é a mais longa do ano. Devido à órbita elíptica da Terra, as
datas nas quais ocorrem os solstícios não dividem o ano em um número igual de
dias. Isto ocorre porque quando a Terra está mais próxima do Sol (periélio)
viaja mais velozmente do que quando está mais longe (afélio).[5]
A melhor definição de sol de inverno, aqui
no Rio Grande do Sul, ouvi da minha filha que veio me visitar agora em junho: “O
sol por aqui é como lâmpada de geladeira, só ilumina!”.
[1]
Região da fronteira do Brasil com o Uruguai e com a Argentina e centro do
Estado do Rio Grande do Sul.
[2]
Cão gaudério, no Rio Grande do Sul.
[3]
Conjunto de tiras de couro colocados sobre os cavalos para atrelar à carroça.
[4]
Porteira construída com arames e varas de madeira.
[5]
SOLSTÍCIO. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Solst%C3%ADcio.
Acesso em 20 jun 2012.
Prezado Garin,
ResponderExcluirdepois de tua enregelante história trazendo o cenário invernoso sureño e da linda metáfora para o sol de tua filha, trago minha história recorde de frio: estar na parada esperando ônibus, em Aalborg com —14ºC e tempos depois conviver na Universidade em manga de camisa, pela climatização das salas.
Ainda, adito meus votos de FELIZ INVERNO/VERÃO aos teus leitores do Hemisfério Sul/Norte e também clima agradável àqueles das regiões equatoriais.
Com estima
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirmenos quatorze graus só experimentei em situações de sensação de temperatura, mas nunca estive num lugar tão gelado assim. Nessas circunstâncias é bom ter uma geladeira por perto para se abrigar dentro.
Um abraço,
Garin