terça-feira, 19 de julho de 2011

SOLIDARIEDADE

Raramente acontece comigo, mas naquele dia estava bastante atrasado para um compromisso. O trânsito parou no cruzamento com a avenida porque o semáforo estava fechado. De repente, veio uma criança em minha direção pedindo que abrisse o vidro do carro. Ele me pediu uma moedinha.
Essa circunstância é comum para todas as pessoas que transitam pelas vias das grandes, médias e pequenas cidades. É nesse momento que se estabelece o dilema para qualquer um(a). Você está atrasado; o seu olhar está fixo no sinal que irá ficar verde; nota que sob a marquise há uma mulher olhando para a criança; a criança, de mão estendida está à sua frente; em sua alma, a consciência moral lhe pressiona. É o desafio da caridade.
A nossa mente inicia um processo rápido de reflexão. Ajudar uma criança assim pode criar um dependente. É muito provável que ela esteja sendo explorada por adultos à sua volta. Também é possível que a criança não tenha com o quê se alimentar. Por outro lado eu já contribuo com impostos, regularmente. O governo precisa fazer a sua parte. A criança permanece ali e o semáforo já vai abrir. Minha consciência moral me pressiona. Preciso tomar uma atitude: ou aplaco minha consciência oferecendo uma moedinha e esqueço a reflexão e a lógica, ou me agarro aos princípios éticos maiores, ratifico meu conhecimento e arranco o carro em direção ao meu destino.
Nunca é fácil escapar desse e de outros tantos dilemas morais que se apresentam diante da gente, sem serem convidados. A caridade é, certamente, um dos mais freqüentes. Temos toda a pregação religiosa e muitas vezes piegas que nos ameaça com consequências infernais. Temos a cobrança social que nos direciona para a ação caritativa como sendo um distintivo virtuoso.
Diria que não há fórmulas e nem caminhos simples para escapar. Não há respostas absolutas e possíveis a serem empregadas em todas as situações. Cada pessoa, diante do desafio da caridade terá que se posicionar. É importante lembrar que há uma imensidade de organismos e instituições bem organizadas e reconhecidas pela sua trajetória que fazem trabalhos belíssimos e que merecem o carinho e a caridade das pessoas honestamente desejosas de participar.
Abri o vidro do carro, perguntei o nome e em que série ela estava estudando. Conversei um pouquinho enquanto o semáforo permitia. É impossível separar aquele dilema do fato de que ali, diante de mim, está em ser humana, uma criança que, talvez pela maldade de alguém, ou por consequência de circunstâncias vitais, não tem uma situação social melhor. Percebi que a sua atitude se modificou e até esqueceu a moedinha que havia pedido. O sinal abriu e eu me despedi dela com um aperto de mão.



DESTAQUE DO DIA
Dia da Caridade
“No Brasil, o dia 19 de julho tornou-se oficialmente o Dia da Caridade através da Lei nº 5.063, de 1966, por decreto do então presidente Humberto Castelo Branco.” (1)
“O Cristianismo afirma que a caridade é o "amar ao próximo como a si mesmo". E afirma que se uma pessoa não se amar adulterando e mentindo a si mesma sobre as coisas que a rodeia, defendendo somente o seu ponto de vista sem pensar no ponto de vista divino, pode estar "amando" o seu próximo, mas da sua maneira, pois quanto mais buscar o esclarecimento divino sobre como amar a si mesma, maior poderá ser o amor desta pessoa pelo seu próximo.” (2)
(1) Dia da Caridade. Disponível em http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/pwdtcomemorativas/default.php?reg=4&p_secao=15. Acesso em 18 jul 2011.
(2) Caridade. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Caridade. acesso em 18 jul 2011.
Lustração disponível em http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=46670. Acesso em 18 jul 2011.


4 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    já me ouviste dizer que dos três DNAs que nos fazem enquanto ocidentais, dos gregos herdamos o Saber, dos judeus, a Lei e dos Cristão, o Amor;
    E nesta data Solidariedade, Caridade ou Amor são sinônimos.
    Tomara que o teu Diálogo e o aperto de mão tenham sido um óbolo para a menina faminta
    Desde Londres a admiração do
    attico chassot

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  2. Caro Attico,

    é que eu percebi que muito mais forte que a necessidade de alimento material aquela criança estava necessitando de atenção: a tristeza do seu rosto apontava mais para a ausência de carinho humano.

    Um abraço,

    Garin

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  3. Professor,

    é justamente esta caridade que tem real fundamento: a de fazer o outro se sentir melhor.Estamos tão cercados de coisas que, o que muitos precisam é justamente de um aperto de mão, uma palavra ou apenas um "olhar"...

    Uma ótima quarta-feira!
    Abraço,
    Rosana

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  4. Cara Rosana,

    na sociedade de consumo contemporânea, as pessoas têm dificuldade de entender que a caridade pode (e até deve) ser de gestos. É comum pensar-se em algum bem material. Contudo, na maioria das vezes, um gesto pode ser mais significativo do que um presente.

    Um abraço,

    Garin

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