terça-feira, 9 de agosto de 2011


AS CONTAS
ANO 01 – Nº 151

A noite chegou tarde para mim, o dia foi daqueles normais, mas já era sexta-feira, sabem como é... um pouco de cansaço, uma dose de preguiça, um tanto de expectativa pelo sábado (oh sábado, sempre um grande dia, mesmo que seja com chuva ou com frio!). Larguei minhas ‘tralhas’[1] no hall e fui até a caixa de correio apanhar as correspondências. Nessa altura do mês, não deu outra, só contas[2]: condomínio, telefone fixo, celular, fatura do cartão de credito, seguro do carro etc., fora aquelas intermináveis propagandas de farmácias, supermercados, arrumador de persianas, encanadores e por aí vai. Já reparaste que dificilmente a gente recebe uma correspondência que desperte o desejo de abrir com sofreguidão? Depositei tudo sobre a mesa e comecei a examinar os conteúdos. Não sei como o carteiro suporta carregar tantos números. Imagino que cada um(a) carregue muitos milhares de reais todo o início de mês.

Foi nesse momento que me dei conta de que as contas refletem bastante nossa forma de existir. Pelo valor do condomínio dá para ver nosso perfil de morador. Pela conta de luz é possível avaliar os aparelhos e equipamentos que possuímos. A conta do telefone e do celular diz por si, das nossas interrelações sócio-familiares. A fatura do cartão de crédito...ah, precisa falar dessa? Não tem como deixar de fora, não é? Essa mostra, direitinho, o perfil de administrador pessoal que somos. Muito pesada: descontrole de gastos; muito leve: pão duro; razoável: ‘servo bom e fiel’.

Cá com os meus botões, é nessa etapa do mês que a gente olha para o anterior e avalia a trajetória dos últimos trinta dias. É assim na sociedade de consumo. Aqui, no Japão, na Europa, em Angola, na Austrália pelos gastos e contas a pagar é possível fazer um balanço de como vivemos.

Podia ser diferente. Imaginas como seria se ao invés das contas, recebêssemos um extrato das histórias que contamos aos amigos e das que deixamos de contar? Receber uma fatura com o número de atitudes de solidariedade que tivemos nos últimos trinta dias e do nosso desamor? Um boleto contendo as vezes que emprestamos nossos ouvidos para escutar as almas cansadas dessa rotina desgraçada de correr atrás da corrida e dos ouvidos moucos que fizemos? Um demonstrativo de todos os olhares de compaixão no último mês e das ‘viradas de cara’ para não ver? Uma conta listando todas as negligências em considerar o humano dos outros seres humanos? Uma cobrança mostrando nossas injustiças na convivência com as pessoas que nos são mais próximas, mais íntimas e por aí afora?

É... seria bem diferente! Acho que apontaria para um mundo mais gente!



DESTAQUE DO DIA

Nascimento e Jean Piaget (115 anos)

Sir Jean William Fritz Piaget[3] nasceu em Neuchâtel, Suíça a 9 de agosto de 1896 e faleceu em Genebra a 16 de setembro de 1980. Epistemólogo suíço, considerado o maior expoente do estudo do desenvolvimento cognitivo.

Estudou inicialmente biologia na Universidade de Neuchâtel onde concluiu seu doutorado, e posteriormente se dedicou à área de Psicologia, Epistemologia e Educação. Foi professor de psicologia na Universidade de Genebra de 1929 a 1954; tornando-se mundialmente reconhecido pela sua revolução epistemológica. Durante sua vida Piaget[4] escreveu mais de cinqüenta livros e diversas centenas de artigos.


[1] Sacolas, pastas, mochilas e outras miudezas mais.
[2] Ilustrações disponíveis em http://www.ceee.com.br/pportal/ceee/component/Controller.aspx?CC=20076; http://tendatofora.blogspot.com/2011/05/sem-apto-mas-com-conta-do-condominio.html; http://tendatofora.blogspot.com/2011/05/sem-apto-mas-com-conta-do-condominio.html;  acesso em 8 ago 2011.
[3] Jean Piaget. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Piaget acesso em 8 ago 2011.
[4] Ilustração disponível em http://decentlifestyle.com/starr-jean-piaget-epistemology/ acesso em 8 ago 2011.

7 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    tens nas contas um bom indicador da qualidade de vida dos moradores. Há um outro muito pouco usado mas que daria excelentes estudos antropológicos: o lixo descartado.
    Obrigado por nos lembrares Piaget. Somos tu e eu de uma geração onde ele quebrou paradigmas na área de aprendizagem infantil.
    Uma boa terça-feira mesmo com esta umidade continuada, que ontem fazia os corredores de nosso Centro Universitário Metodista do IPA pistas escorregadias que davam medo,
    attico chassot

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  2. Caro Attico,

    tive aula ontem na Unidade Americano. Precisava caminhar com passinhos muito curtos, como se fosse uma dama japonesa em seus trajes típicos. Sabes como seria uma queda nesse período do semestre e na minha idade.

    Um abraço,

    Garin

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  3. Hoje invês de abrirmos cartas para saber de amigos e parentes queridos. Abrimos e-mail e post no facebook/twitter. Os meios de comunicação mudaram com era do www e @. Mas realmente todo inicio de mês é uma tristeza ver que esta sobrando dias no mês para pouco salário!!! ehehehehe

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  4. Puxa, pai! Assim, pertinho do dia dos pais és tu que me presenteia...este foi um dos teus posts que mais fez eu pensar...
    Acho que sou uma das poucas pessoas que não tem TV e que continua se relacionando com alguém por cartas. Claro, deve-se levar em conta que esta pessoa deve ter mais de 80 anos. Quantos anos tem o Beto de Uruguaiana?

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  5. Ah! Esqueci de falar do Piaget! Não esqueço o nome do edifício da minha primeira terapeuta, chamava-se "PIAGET". Por 10 anos li este nome toda quarta-feira. E hoje seus livros estão na minha prateleira e quebro a cabeça pra entender sua pesquisa e colocá-la em prática em sala de aula.

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  6. Oi Janice,

    que alegria ler o teu comentário. Pois é, como sou de 'antigamente', tenho saudade daquela carta de um parente, ou amigo distante que chegava pelo "correio". Era aguardada com ansiedade!

    Um abraço,

    Garin

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  7. Oi Filha,

    pois é, que bom que ainda cultivas o hábito de escrever cartas. Acho que o Beto tem uns setenta e poucos anos. Que bom que te fiz lembrar do Piaget da terapeuta.

    Um beijo,

    Pai

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