quinta-feira, 21 de abril de 2011

AÇÃO DE GRAÇAS [da Kiddush à Eucaristia]

A noite era chuvosa e não convidava muito para uma reunião na igreja. Havia preparado os elementos necessários para a realização daquela celebração. Meia hora antes de iniciar, me dirigiu ao templo, acendi as luzes e abri as portas. Dessa forma pretendia incentivar as pessoas para que entrassem. Era quinta-feira da semana santa e a celebração recordava a instituição da Santa Ceia, ou Eucaristia, para utilizar a forma grega.
Passados alguns instantes as pessoas começaram a chegar. Algumas vinham direto do trabalho, outras tiveram a oportunidade de se preparem melhor para a cerimônia. Em pouco tempo já éramos cerca de trinta pessoas. Então iniciei a explicação da cerimônia:
“Na quinta-feira[1] da semana santa celebramos a reunião que Jesus realizou com os seus discípulos mais próximos, também chamados de apóstolos (os enviados). O Evangelista Marcos narra esse momento da seguinte maneira:
“E, enquanto comiam, tomou Jesus um pão e, abençoando-o, o partiu e deu-lhes, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo. A seguir, tomou Jesus um cálice e, tendo dado graças, o deu aos seus discípulos e todos beberam dele. Então lhes disse: Isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos. Em verdade vos digo que jamais beberei do fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus. Tendo cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras.” (Mc 14.22-26).
Essa refeição, realizada por Jesus com seus apóstolos, constituía uma prática comum do grupo. Era conhecida pelo termo kiddush e consistia de pão comum e um cálice de vinho[2] (normalmente misturado com água). Após a refeição era cantado um hino visto que a mesma tinha o sentido de “santificação”.
Segundo a tradição, tratava-se de uma celebração preparativa ao sábado, um dia no qual não se fazia qualquer trabalho, nem mesmo a própria comida (Ex 16.23).
Essa refeição foi transformada, por Jesus, na Santa Ceia (Ευχαριστία) e passou a ser partilhada com todos os seus seguidores após o domingo da Ressurreição. Nessa nova refeição, já não mais é celebrada a preparação para o sábado (prática judaica), mas a rememoração de Cristo que se oferece para alimentar os fiéis que aderem ao cristianismo.”
Depois de partilharmos do pão e do vinho, cantamos um hino e nos recolhemos ás nossas casas em meditação.


[1] Nesta semana foi divulgada uma notícia sobre a possibilidade de haver um equívoco no calendário sobre a data da instituição da Santa Ceia. Santa Ceia ocorreu na quarta-feira, diz professor. Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3279884.xml&template=3898.dwt&edition=16930&section=1014. Acesso em: 20 abr 2011.
[2] Nas igrejas evangélicas, normalmente é servido o suco de uva, em substituição ao vinho, em respeito às pessoas que foram dependentes do álcool, como bebida.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    meus óculos ao ler-te hoje veem o pastor.
    Esqueço o colega professor de História e Filosofia da Ciência, com expertise em História das igrejas, que divide comigo um seminário no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão.
    O teu relato da piedosa recordação da última ceia se contrapõe com notícia: amanhã – sexta-feira Santa – os supermercados abrirão normalmente.
    Podes imaginar que isso me machuca. Constato então que a religiosidade determinada pelas mega-igrejas se esboroa; mas são práticas como as que tu descreves – marcadas pela solidariedade – que fazem sentido.
    Desejo-te uma quinta-feira santa frutuosa e lembro ao motociclista que a marcela que servira para terapias estomacais precisa ser aquela colhida ainda com o sereno da madrugada de sexta-feira Santa; portando amanhã o madrugador verá o sol nascer motocicletando,
    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,

    fui pastor de uma comunidade que ficava em frente a um grande Supermercado de Porto Alegre. Todas as sextas-feiras santas fazíamos a meditação sobre as palavras da Cruz, entre 9h e meio dia. Quando saía do Templo sempre tinha o coração apertado porque as portas estavam abertas e as pessoas comprando e vendendo.

    Um abraço,

    Garin

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