quarta-feira, 20 de abril de 2011

O TEMPO [II]


[SUGIRO ASSISTIR AO VÍDEO ANTES DE LER]



Ontem, entre 15h34min19seg e 15h34min35seg estive pensado no que deveria escrever para publicar hoje. Mais uma vez pensei no tempo[1]. Mesmo que ele possa ser contestado, é no decorrer dele que nossa vida se expressa. Enquanto contemplava o relógio em seu implacável tic...tac... pensei nas contradições do nosso tempo[2].
Nossos relógios são, quase todos, digitais[3], porém marcam uma percepção analógica[4]. Essas paralelas e simultâneas dimensões nas quais existimos servem de estrutura mental e reflexiva para as nossas percepções. O tempo sinalizado pelos ponteiros do relógio nos impulsiona a pensar num passar constante dos fatos enquanto nossa forma de pensar obedece outra ordem de prevalências.
O cérebro se localiza espacial e temporalmente numa latitude específica, mas a mente reflexiva se move na dimensão “digital”: avança ou retrocede na seqüência dos fatos pouco importando a localização física do sujeito pensante. Podemos estar aqui, no Brasil, mas refletimos sobre a maneira como os japoneses, acometidos por um desastre natural (projetando nossa mente para o passado), irão reconstruir suas vidas (projetando nossa mente para o futuro). Assim, nos movemos para lá e para cá sem qualquer dificuldade. A dificuldade é “estar aqui”, no exato momento dos fatos imanentes.
Não há como negar que o tempo permanece como uma dimensão misteriosa para a nossa mente. É impossível abranger seus limites (se é que os têm). Não há como conceituá-lo, pelo menos em toda a dimensão do seu ser (se é que ele o contém). Dessa forma, vamos continuar refletindo sobre o tempo... por mais algum tempo ainda!
Pois é, nesses dezesseis segundos foi o que consegui pensar para compartilhar hoje. Entretanto tenho dúvidas: não estarei completamente equivocado?


[1]duração relativa das coisas que cria no ser humano a idéia de presente, passado e futuro; período contínuo e indefinido no qual os eventos se sucedem” [Houaiss]
[2]época na qual se vive” [Houaiss]
[3]que trabalha exclusivamente com valores binários (diz-se de dispositivo)” [Houaiss].
[4]forma de medida ou representação de grandezas na qual um sensor ou indicador acompanha de forma contínua, sem hiatos nem lacunas, a variação da grandeza que está sendo medida ou representada.” [Houaiss]

2 comentários:

  1. Meu caro Garin, meu comentário fica apenas no vídeo. Ouvindo o tiquetaquear recordei que vi recentemente a obra The Clock, do artista Christian Marclay, que impressiona sob muitos ângulos. Trata-se de um trabalho, com a duração de 24 horas (exatamente isso, 24 horas!), no qual o artista justapôs algumas milhares de breves cenas de filmes (não legendadas e faladas em alemão, francês ou inglês) de diferentes épocas, extraídas de diferentes cenários, de distintas situações, compondo um filme que se constitui em uma obra prima de montagem, de inacreditável precisão e delirantemente encantadora. Em “tempo real”, assisti o que era exibido no filme no horário da tarde em que estava na galeria. A maestria do artista fez com que as justaposições de cenas de filmes tão diversos (ora em cor, ora em preto e branco) adquirissem uma fluidez quanto às imagens, aos sons, criando novos sentidos para os espectadores. Continuamente os personagens se referiam ao horário, ou as cenas mostravam algum relógio que, minuto a minuto, correspondia ao que víamos em nossos relógios. Lamentei profundamente ter de interromper esta emocionante experiência, mas era preciso viajar.
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    deve ter sido uma experiência muito extraordinária. É sempre assim, a falta de TEMPO não nos deixa curtir aquilo que mais nos encanta e lá vamos nós priorizando "o compromisso" em detrimento do "prazer". É assim com quase todo o mundo.

    Um abraço,

    Garin

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