quinta-feira, 19 de maio de 2011

MEIA, MEIA-LUA, UM, DOIS, TRÊS!

Olhando para a lua cheia que dominava o céu do hemisfério sul ontem, recordei de um tempo longínquo, repleto de experiências e imagens de convivência social.
Aquele foi um inverno muito frio aqui no sul do Brasil. Meu pai recebeu um telegrama que chegou pelas mãos de um parente distante de minha mãe, avisando que meu avô, na distante (de trem) cidade de Caxias do Sul não passava bem. O ano era 1962. Às pressas, arrumamos as roupas numa sacola e nos tocamos para a estação. Ainda dava tempo para tomarmos o Paulista – um trem que vinha de São Paulo, passava por diversas cidades do nosso Estado, como Cachoeira do Sul e terminava em Porto Alegre. Antes, fazíamos baldeação na Estação Ramiz Galvão, (Rio Pardo) e tomávamos o trem para Caxias. Contei isso só para ilustrar como nessa distante década de 1960, as comunicações e viagens eram bem mais complicadas do que hoje.
Quando chegamos, meu avô já estava bem melhor. Mas as melhores lembranças dessa viagem às pressas foram das brincadeiras com meus primos, no cair da tarde. A preferida era o “meia, meia-lua... um, dois, três!” [1] Juntava uma turma de guris e gurias e nos divertíamos em correrias e discussões intermináveis argumentando que não tínhamos avançados nada. As noites, apesar de frias, eram esplêndidas, iluminadas por uma lua cheia de fazer inveja a qualquer poeta carioca. Foram momentos inesquecíveis de convivência e aprendizado mútuo. No entregar-se e no acolher os outros se estabelecia a rica experiência de viver em sociedade civilizadamente.
Tratava-se de uma brincadeira comum, mas como a gente aprendia com aquilo! O sentido de disciplina, a consideração à ética, a noção de papéis e o respeito às hierarquias. Acrescentando a tudo isso estava a vontade de sempre fazer o melhor dentro de uma competição com regras claras e cumpridas pelos participantes. Desses ensaios da infância/puberdade nascia a construção de caracteres formados, prontos para enfrentar a vida adulta com seus múltiplos desafios.
Diante de nossa época e de nossas possibilidades pode-se dizer: bons tempos!


[1] MEIA, MEIA-LUA, UM - DOIS - TRÊS [RS] Desenvolvimento:  Um grupo de crianças fica sobre a linha traçada no chão, e um outro participante se afasta mais ou menos 20 metros.   A criança destacada, de costas para o grupo, conta rapidamente até um número menor que 10, enquanto as outras correm ou andam em sua direção com intuito de alcançá-la.  Ao interromper inesperadamente a contagem e virar-se para o grupo, aquela que for vista em movimento deve retornar à linha traçada, de onde recomeçará. As demais continuam do ponto em que estavam paradas. O jogo terminará quando uma das crianças chegar àquela que fez a contagem, substituindo-a. [Fonte - MELLO, Alexandre Moraes de.   Título: Jogos populares infantis como recurso pedagógico de EF. . ., Data da publicação: 1985] disponível em: www.escolaoficinaludica.com.br/brincadeiras/estados/ba.rtf Acesso em: 18 maio 2011.

3 comentários:

  1. Muito estimado colega Garin,
    duas dimensões na blogada de uma lua cheia que a mim também encantava na noite de terça-feira.
    Uma: a tomada pelos Garin do ‘trem Paulista’, recordo que este trem me ensinou, quando morava em Estação Jacuí, próximo de onde, uma década depois tu te arranchavas, uma das primeiras expressões populares: ‘Atrasado como Paulista’, pois este trem pela extensão de seu trajeto, passava sempre atrasado.
    Outra, meus alunos de Conhecimento, Linguagem e Ação Comunicativa da turma de música estão fazendo pesquisa de saberes primevos na área. Teu jogo trazido hoje é uma excelente dica. Vou recomendar a leitura desta blogada.
    Uma muito boa quinta-feira para cada uma e cada um de teus leitores,
    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,

    espero não estar vivendo só de lembranças... mas que elas vêm, elas vêm... Agora consigo me dar conta do quanto elas foram singificativas na formação da minha personalidade.

    Ficarei honrado pela recomendação do meu blogue aos teus alunos(as), espero não decepcioná-los.

    Normalmente os meus comentários ao teu blogue são "atrasados como paulista", mas hoje consegui madrugar, no comentário.

    Um abraço,

    Garin

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  3. Quem ia a Caxias de trem em 1960 deveria ser extremamente pobre...
    Coitados.
    Mas seu relato me comoveu.
    Brincávamos com esse jogo em Guaíba em 1945...
    Abraço
    Baldino

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