sexta-feira, 6 de maio de 2011

A ÁRVORE


Visitando uma universidade recentemente, encontrei esta árvore[1] junto à área de convivência. Seu colorido chamou a atenção porque focada contra o céu azul de maio, com algumas nuvens esparsas, era o próprio símbolo do outono nesta região do hemisfério sul[2]. Frequentemente, nosso cotidiano é tão assoberbado de compromissos e de tarefas que, mesmo nos finais de semana, não temos oportunidade de contemplar a natureza que segue seu ciclo regular. A imagem bonita dessa árvore me levou à reflexão sobre as estações e às estações da vida.
Na regularidade de seu ciclo, a natureza troca de cor e se expressa de forma distinta a cada estação. Ao refletirmos sobre o nosso viver percebemos que muitas coisas vão se alterando com o passar da idade – isso óbvio, todos dirão! Porém, há elementos que nem sempre são percebidos por todos(as). Um exemplo disso é a capacidade de perceber os ciclos do existir[3].
No início, imaginamos que a vida é eterna e desejamos ardentemente completar dezoito anos. É uma idade mágica que nos dá a sensação de autonomia, de liberdade, de quem passa a saber tudo, na virada do quinquagésimo nono segundo, da vigésima terceira hora da véspera, para o primeiro segundo do dia do aniversário. Quando nos formamos no curso superior temos a sensação de que agora somos um profissional cujo campo de trabalho está aberto aguardando ansioso pela nossa contribuição. Ao nos casarmos[4] percebemos que estamos preparados para construir um núcleo familiar com estabilidade e consistência de tal sorte que a nossa vida irá se perpetuar através das gerações. Com o declínio de nossa capacidade física percebemos que agora é preciso aprender tudo àquilo que antes tínhamos certeza de que sabíamos: a sabedoria vira aprendizado e as certezas se transformam em incertezas.
Entretanto, não é bem assim. Entendemos que a vida é eterna, mas só por um momento; que aos dezoito anos somos livres e autônomos, mas com limites; que o mundo do trabalho nos aguarda, mas que precisamos conquistá-lo, que estabelecemos uma família, mas que nem sempre será a perpetuação por gerações; que nossa sabedoria da maturidade nos leva, a pelo menos uma certeza: que são as incertezas que nos movem!
Pois é, bela árvore... não nos inspira à poesia?


[1] Creio que se trate da árvore Bordo, ou Maple Tree, na versão em inglês.
[2] Rio Grande do Sul, Brasil.
[3] Por favor, trata-se de um texto literário e não de um tratado sobre a existência.
[4] Casamento tem o sentido de escolha de nossa parceria estável.

2 comentários:

  1. Muito querido Garin,
    estimado colega de blogares nas madrugadas,
    linda a árvore que clicaste no sempre florido campus da UCS. Na nossa Porto Alegre temos também diferente ciclo de floradas, por ora esperamos a floração das paineiras.
    Mas não posso me furtar, quando faço a redação de um dos primeiros textos (antes respondi apenas ao Paulo Marcelo no meu blogue sobre ‘Vende-se diplomas’) após a emocionante decisão do STF aprovando ~~ por unanimidade -~~ as relações homoafetivas, de fazer de teu blogue o primeiro espaço da manifestação de minha mais genuína alegria e forte emoção pelo já memorável 5 de maio de 2011.
    Obrigado por este espação que se espraia em demonstração de tolerância.

    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,

    meu posicionamento é na mesma direção. Entendo que estamos dando um importante passo naquilo que, como brasileiros, somos reconhecidos mundialmente - a tolerância. Entendo, inclusive, que o Brasil (e os brasileiros(as)) podem dar uma contribuição ainda maior para o mundo em matéria de tolerância e inclusão.

    Boa sexta-feira (hoje sem o nosso encontro de História e Filosofia da Ciência).

    Garin

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