quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ÁRVORE DA VIDA
ANO 01 – Nº 334

Excepcionalmente, trago hoje, uma meditação que escrevi para o livro Proclamar Libertação como auxílio homilético para do dia 11 de março de 2011, sobre os textos de Gn 2.15-17, 3.1-7:

O foco principal desta narrativa está na desobediência, mas a fonte dela é o desejo de superação da própria limitação de entendimento. A vontade de se aproximar do conhecimento total, somente possível a Deus, induz o ser humano a fraudar uma determinação de Javé. A ordem é divina – foi Javé quem estabeleceu os limites para o ser humano, portanto faz parte da Criação como elemento fundamental de ordenação da vida. A desobediência é humana – faz parte da sedição do homem e da mulher de superação dos seus limites desobedecendo às ordens ou burlando a ordenação estabelecida por Deus. Trata-se de uma narrativa etiológica relacionada à exploração das possibilidades da fraude.


É notável que, nesta narrativa, a fraude possui motivações externas, mas pelo menos dois terços são constituídos de autoconvencimento. O ser humano percebe que a árvore, sobre a qual repousava a proibição, “era boa para se comer”, ou seja, a subjetividade humana projetada sobre um elemento da natureza, alimentada pelo desejo. Junto a isto, estava outra subjetividade: a árvore era “agradável aos olhos”, tinha uma beleza que satisfazia à necessidade de ver o belo no ambiente onde vivia. É o ser humano que busca internamente as justificativas para suas ações fraudulentas. Por último, o elemento externo, estabelecido por Deus como peculiaridade da árvore: “o conhecimento do bem e do mal”. Este último fez parte da sedução alimentada pela serpente: “se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal.” A ordenação da criação é esquecida rapidamente porque a vontade de conhecer assim como o Criador conhece é mais forte do que todo o conforto do jardim bem construído e harmonizado para a sua habitação. O convencimento provocado pela serpente desconstrói a ordem divina ao induzir que Javé estava mentindo: “certamente morrerás” versus “é certo que não morrereis”, mas é alimentado poderosamente pelas motivações subjetivas do homem e da mulher. Para conquistar o infinito do conhecimento se aventura pelos descaminhos do desconhecido. Prefere a trilha da desobediência à comodidade da paz que reinava na harmonia entre ser humano e natureza.


A conseqüência da fraude é a descoberta da distância que separa uns dos outros, mesmo que se trate de um casal acostumado à intimidade cotidiana. Agora, portadores do conhecimento, se descobrem desnudos. Aquilo que antes era tão peculiar à intimidade aparece como estranho. Um elemento de separação se estabelece impondo distância entre o ser humano e seu próprio corpo, entre a criatura e seu Criador. O conhecimento ético é simbolizado pela descoberta de que homem e mulher estavam nus. Uma nova tarefa se agrega a de “cultivar” e “guardar o jardim”: preservar a intimidade. Trata-se de uma tarefa que não mais está ligada ao cultivo do jardim, mas explora a natureza para satisfazer à necessidade de cobrir-se.[1]

DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Martin Buber (134 anos)

Martin Buber nasceu em Viena a 8 de Fevereiro de 1878 e morreu em  Jerusalém a 13 de Junho de 1965. Foi filósofo, escritor e pedagogo, judeu de origem austríaca, e de inspiração sionista. Tinha educação poliglota: em casa aprendeu ídiche e alemão, na escola, hebraico, francês e polonês. Sua formação universitária se deu em Viena.

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante, ou seja, a intersubjetividade. Intersubjetividade é a relação entre sujeito e sujeito e/ou sujeito e objeto. O relacionamento, segundo o filósofo Martin Buber, acontece entre o Eu e o Tu, e denomina-se relacionamento Eu-Tu. A interrrelação segundo ele, envolve o diálogo, o encontro e a responsabilidade, entre dois sujeitos e/ou a relação que existe entre o sujeito e o objeto. Intersubjetividade é umas das áreas que envolve a vida do homem e, por isso, precisa ser refletida e analisada pela filosofia, em especial pela Antropologia Filosófica.[2]



[1] GARIN, N.C. Primeiro Domingo da Quaresma. in: Proclamar libertação. v.35. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2010, p. 127.
[2] MARTIN BUBER. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Buber. Acesso em 8 fev 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    é bom recebermos lições de humildade ao reconhecermo-nos incapazes. Não são me é dado luzes para comentar um texto que se diz homilético.
    Um abraço deste Forno Alegre,
    attico chassot

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    1. Caro Chassot,
      hoje foi um daqueles dias nos quais as preocupações embotam a inspiração. Assim, recorri a um texto produzido em 2010 sobre a narrativa da criação.
      Obrigado pelo teu (não)comentário.

      Um abraço.

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