sábado, 18 de fevereiro de 2012

O Capacho - ano 01 - nº 344

O CAPACHO
ANO 01 – Nº 344

Precisava falar com o meu vizinho de apartamento, mas ele havia viajado. Não se tratava de nada urgente, por isso não quis incomodá-lo pelo telefone celular. De outra sorte, não tinha como ficar ‘monitorando’ o seu retorno. Tive uma ideia: fui até a porta do apartamento dele e virei o capacho. A estratégia que planejei seria a de que, quando chegasse, a primeira coisa que faria era desvirá-lo e assim, quando eu chegasse, saberia se ele havia retornado ou não.

O tempo ia passando e o capacho continuava virado. Entretanto, pelas minhas contas, ele já deveria ter retornado. Invocado com a situação, fui até sua porta e toquei a campainha. Surpresa: fazia dois dias que o vizinho estava em casa.

A primeira coisa que eu faria, ao chegar em casa, seria desvirar o capacho antes de entrar. Porém, para o meu vizinho isso não o incomodava. Resulta, dessa visão equivocada, que os julgamentos que fazemos sobre os outros também são equivocados. Se para mim, os objetos necessitam estar em ordem, no seu lugar e alinhados, para o vizinho é mero detalhe secundário.

A gente sempre tende a pensar que os outros, que convivem na mesma cultura que a nossa, pensam mais ou menos como nós mesmos. Há pessoas que ficam totalmente perdidas se os seus objetos não estiverem organizados o suficiente de tal sorte que os encontrem com facilidade, até no escuro. Há outras que conseguem viver, com facilidade, no meio da desordem. Achar que o vizinho está errado por não prestar atenção aos detalhes dos seus objetos corresponde ao mesmo que achar que eu sou o certinho por arrumar tudo dentro e fora de casa.

Depois desse episódio fiquei refletindo sobre a maneira como organizamos o mundo em nossa mente. A forma como dispomos objetos, anotações, arquivos de computador, tempo etc. reflete a visão de mundo que temos. É sobre essa projeção organizada da mente que entendemos o mundo fora de nós. O que está além de mim não é diferente do que está em mim. Nosso existir é o resultado das articulações que acontecem no mundo do pensamento e desse mundo nascem os valores e princípios que consideramos necessários.

A partir dessa percepção descobrimos o quão difícil é conviver com o outro, mesmo que esse outro esteja a poucos passos da minha porta, ou mesmo para dentro dela. Talvez o desafio da convivência esteja diretamente ligado à flexibilidade que podemos ter em relação ao outros. Aceitá-los com a sua forma de perceber o mundo é a arte de entender as diferenças sem, necessariamente, querer modificá-los.

Com votos de um ótimo sábado!
DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Ernst Mach (174 anos)

Ernst Mach nasceu em Brno a 18 de fevereiro de 1838 e morreu em Vaterstetten a 19 de fevereiro de 1916. Foi um físico e filósofo austríaco. Suas obras filosóficas e científicas exerceram profunda influência no pensamento do século XX. Seus primeiros livros contêm os fundamentos de uma nova teoria filosófica, o empirocriticismo. Defendeu uma concepção positivista: nenhuma proposição das ciências naturais é admissível se não for possível verificá-la empiricamente. Seguindo a linha de pensamento formulada por David Hume, Mach nega-se a se pronunciar sobre a natureza da realidade (se psíquica ou física) para permanecer no plano fenomênico. Para Mach, todas as afirmações empíricas (incluindo as científicas) poderiam ser reduzidas a afirmações sobre as sensações. O caráter de qualquer lei científica é apenas o descritivo. A escolha entre hipóteses igualmente plausíveis e relativas ao mesmo fato seria uma questão de economia de pensamento. Sua visão positivista foi uma das fontes do positivismo lógico, posteriormente elaborado pelo Círculo de Viena.[1]



[1] ERNST MACH. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernst_Mach. Acesso em 18 fev 2012.

2 comentários:

  1. Meu estimado colega Garin,
    não poderia imaginar tão original e falho processo de controlar vizinhos. Imaginei pelo título que ias referir o uso metafórico que tínhamos para capacho. Lembra, v.g., de ‘um líder sindical capacho’.
    ]Um bom saldo deste senegalesco sábado ao pastor do cotidiano e aos seus,

    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      lembro muito bem das escaramuças sindicais; aliás, por falar em sindicalista capacho, essa é uma 'raça' que anda solta por aí: tenho acompanhado a trajetória de alguns!
      Um abraço.

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