terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

TERRA ESTRANHA
ANO 01 – Nº 333

Li ontem, na Zero Hora de Porto Alegre, a coluna do Luiz Fernando Veríssimo, cujo tema era a descoberta de uma cópia idêntica da Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. Mas o que me chamou a atenção foi uma das suas últimas expressões quando ele cita: “O passado, já disse alguém, é uma terra estranha. Só se pode conhecê-lo pela especulação e visitá-lo pela imaginação.”.[1]

Boa parte das vezes somos presunçosos com as nossas técnicas científicas de perscrutar o passado. Não vai aqui nenhum desmerecimento ao trabalho criterioso dos historiadores. Refiro-me ao orgulho que nos toma conta, vez por outra, ao argumentarmos sobre algum episódio da história.

Normalmente temos pouco cuidado quando falamos de acontecimentos de antanho. Enchemos a boca para dizer que em mil novecentos e lá vai bala aconteceu isso e aquilo. A expressão trazida aqui pelo Veríssimo me recorda que a história contada é bem mais uma interpretação do que se conseguiu descobrir sobre alguma coisa que aconteceu.

Em primeiro lugar porque contamos a história pelo viés que nos interessa. Em segundo, porque a olhamos do ponto de vista de onde estamos agora. Em terceiro, porque há elementos que cercam o contexto dos fatos, os quais desconhecemos em sua totalidade, mesmo porque sempre há particularidades que são cuidadosamente escondidas.

Nossa leitura da história é, de fato, o trazer à memória de algumas particularidades que nem sempre corresponde à intencionalidade dos acontecimentos. Como citou o colunista, a história é uma terra estranha, pois guarda os seus segredos quiçá, para a eternidade. Contentamo-nos com um aspecto aqui, outro ali e, de resto, ficamos nas “especulações”!
  
Com votos de uma boa terça-feira!

DESTAQUE DO DIA

Morte de Sepé Tiaraju (256 anos)

Estátua de Sepé Tiaraju
em Santo Ângelo, RS
Sepé Tiaraju nascido na Redução de São Luís Gonzaga, RS, em data desconhecida e morto em São Gabriel a 7 de fevereiro de 1756. Foi um índio guerreiro guarani, considerado um santo popular brasileiro e declarado "herói guarani missioneiro rio-grandense" pela Lei nº 12.366. Nascido em um dos aldeamentos jesuíticos dos Sete Povos das Missões, foi batizado com o nome latino cristão de Joseph. Bom combatente e estrategista, tornou-se líder das milícias indígenas que atuaram contra as tropas luso-brasileira e espanhola na chamada Guerra Guaranítica. Tal conflito inscreve-se no contexto histórico das demarcações decorrentes da assinatura do Tratado de Madrid (1750), que exigiu a retirada da população guarani aldeada pelos missionários jesuítas do território que ocupava, havia cerca de 150 anos. A posse da região ainda seria objeto do Tratado de Santo Ildefonso (1777) e do Tratado de Badajoz (1801).

Viviam na região dos Sete Povos das Missões aproximadamente trinta mil guaranis. Somando-se os do Paraguai e da Argentina, alcançaram um total estimado de oitenta mil indígenas evangelizados, que habitavam em aldeias planejadas, organizadas e conduzidas como verdadeiras cidades. O interesse luso-brasileiro por esta extensa região deveu-se, além da posse territorial, ao gigantesco rebanho de gado, o maior das Américas, mantido por esses mesmos indígenas. Pereceu em combate contra o exército espanhol na batalha de Caiboaté, às margens da Sanga da Bica, na entrada da cidade de São Gabriel, durante a invasão das forças inimigas às aldeias dos Sete Povos. Após sua morte pereceram aproximadamente 1.500 guaranis diante das armas luso-brasileiras e espanholas.[2]



[1] ESPECULAÇÕES. Disponível em http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3654343.xml&template=3916.dwt&edition=18935&section=70. Acesso em 7 fev 2012. (Esse alguém pode ter sido Cressida Crowel no livro “Como se muda a história do dragão”, ou uma frase do Maluco Beleza).
[2] SEPÉ TIARAJU. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sep%C3%A9_Tiaraju. Acesso em 7 fev 2012.

2 comentários:

  1. Muito estimado Garin,
    de São Sepé a Michel Teló (e antes e depois deles) temos bons exemplos de como se fabricam os mitos.
    Alíás, o mesmo vale para a(s)Mona Lisa.
    Obrigada por esta tua blogada calorosa (nos dois sentidos)
    arrico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      parece que nós, seres humanos temos uma insaciável sede de consumir ídolos, não importa a época em que vivemos. Nossa criticidade é que nos desacomoda.

      Um abraço.

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