domingo, 3 de junho de 2012

Coisas que não se espera - ANO 02 – Nº 448


COISAS QUE NÃO SE ESPERA

Um dia desses, conversando com um aluno no corredor depois da aula, ele me fez uma pergunta a qual não esperava. Sabem aquele tipo de pergunta que te desconcerta? Não estou me referindo a questões indiscretas, mas àquelas questões para as quais a gente não está preparada, de pronto, para responder. Entretanto, era uma pergunta com a qual havia lidado a maior parte da minha vida.

O engraçado é que são justamente essas questões que embaraçam a gente. Você não tem como não responder e não tem uma resposta pronta. Não tem como não responder porque faz parte do teu metier e negar-lhe uma resposta confessaria toda a sua incompetência vital. Não se tem uma resposta pronta porque, simplesmente, não existem respostas prontas. Elas carecem do contexto e esse muda com o tempo e com o lugar.

Assim, não tinha como escapar quando ele me perguntou sobre o que afinal mesmo é a fé. Ele mesmo acrescentou algumas tentativas de respostas, como se seria uma predisposição da consciência, ou uma predeterminação do indivíduo?

Fiz um sinal com a mão para que parássemos a caminhada, não porque a resposta exigisse um ar de solenidade, mas muito mais para que eu pudesse pensar na resposta. Não poderia ser qualquer resposta. Estava diante de um dilema: poderia ser uma questão que tentava me envolver na dimensão teísmo/ceticismo, ou poderia ser um dilema existencial que ele estivesse experimentando. Precisava olhar em seus olhos e tentar descobrir onde residia sua dúvida, se estava localizada na mente ou se ela se alojava no coração.

Caso se alojasse na mente deveria dar um tipo de resposta. Uma resposta que alimentasse a razão sedenta de questionamentos que o encaminharia a novas dúvidas. Caso se alojasse no coração deveria responder com o cuidado necessário para alimentar sua crença, aquela que é subjetiva, mas que necessita de respostas absolutas.

Por um instante, procurei no seu olhar a motivação de sua inquietude e percebi que desejava algo para ancorar seu humano existir. Diante dessa constatação não havia outra resposta a não ser dizer-lhe: a fé é a esperança. Só conseguimos crer em alguma coisa ou em um ser maior que tudo o que conhecemos, quando percebemos, um pouco adiante, um desafio que nos espera e para o qual é aguardada a nossa participação. A fé significa a capacidade humana de vislumbrar o invisível e de aguardar aquilo que não está garantido.

Ora a fé é a certeza das cousas que
se esperam, a convicção dos fatos
que se não veem. (Hb 11.1)

Votos de um bom domingo!
DESTAQUE DO DIA

Morte de Kafka (88 anos)

Franz Kafka nasceu em Praga a 3 de julho de 1883 e morreu em Klosterneuburg a 3 de junho de 1924. Foi um dos maiores escritores de ficção da língua alemã do século XX. A escrita de Kafka é marcada pelo seu tom despegado, imparcial, atenciosa ao menor detalhe, e abrange os temas da alienação e perseguição. Os seus trabalhos mais conhecidos são as pequenas histórias A Metamorfose, Um artista da fome e os romances O Processo, América e O Castelo. Os seus contos são julgados como verdadeiros e realistas, em contato com o homem do século XXI, pois os personagens kafkianos sofrem de conflitos existenciais, como o homem de hoje. No mundo kafkiano, os personagens não sabem que rumo podem tomar, não sabem dos objetivos da sua vida, questionam seriamente a existência e acabam sós, diante de uma situação que não planejaram, pois todos os acontecimentos se viraram contra eles, não lhes oferecendo a oportunidade de se aproveitar da situação e, muitas vezes, nem mesmo de sair dela. A temática da solidão como fuga, a paranoia e os delírios de influência estão muito ligados à obra kafkiana, sendo comum a existência de personagens secundários que espiam, e conspiram contra o protagonista das histórias de Kafka.[1]


[1] FRANZ KAFKA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Franz_Kafka#Estilo_liter.C3.A1rio. Acesso em 3 jun 2012.

2 comentários:

  1. Meu amigo,
    quase kafkiana a definição: A FÉ É A ESPERANÇA.
    Nada mais apropriado para um domingo tão lindo,
    atchasso

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    1. Amigo Chassot,
      pois é, diante das circunstâncias, o melhor que podia fazer era alimentar a alma de quem estava um tanto claudicantes em sua tenra idade.
      Abraços,
      Garin

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