sexta-feira, 22 de junho de 2012

A reconstrução - ANO 02 – Nº 467


A RECONSTRUÇÃO

Acordei aos poucos enquanto as imagens na mente se misturavam entre épocas e locais distintos e distantes. É bom acordar assim, sem sobressaltos, sem pesadelos, suavemente. Por vezes as imagens se intercalavam delineando cenários impossíveis, surrealistas. De outra sorte, era possível acompanhar como pareciam perfeitas, adequadamente localizadas no tempo e no espaço.

Entre essas, a imagem do prédio do internato onde morei por quatro anos repletos de experiências e sentimentos gratificantes. Através dela, conseguia percorrer o trajeto que separava o prédio das aulas até o meu quarto, no segundo piso, sobre o campanário. Era ele quem nos despertava diariamente às seis horas. Implacável, distava cerca de oito metros da minha cama. Não havia como permanecer dormindo depois da primeira badalada, quase dentro do quarto. Tinha manhãs que a Dna. Maria não cansava de badalar aquele sino! Como um eco, os ouvidos continuavam retinindo por vários minutos.

Da janela era possível enxergar o campo de futebol, o jardim do internato que ajudava a cuidar, a entrada da cozinha e o prédio do ‘científico’, onde os finalistas eram alojados. Descendo a escadaria de madeira havia um vestíbulo no qual nos reuníamos antes das refeições aguardando que o Prof. Kneipp abrisse a porta do refeitório. A turma de internos, comumente ‘verde’ de fome, adentrava o recinto e se alojava ao redor das mesas em grupo de oito. Numa cabeceira sentava o ‘presidente’ e na cabeceira oposta, o ‘vice’. Todos se serviam e os bifes que restavam na bandeja eram sorteados.

À frente do internato havia um pequeno pátio calçado no qual todos nos reuníamos após o almoço de sábado. Quem tivesse tirado boas notas no mês anterior e comportamento adequado, segundo o julgamento do Diretor, tinha o direito à ‘saída’, que se constituía na liberdade para passear pela cidade entre às 13h e às 22h. Essa saída era simbolizada por uma ficha de latão com o número correspondente. A minha tinha o nº 35. Antes da liberação dos números havia a expectativa se o Diretor iria chamar o nosso número. Do contrário, significava todo o fim de semana recluso no recinto do internato.

O prédio do internato se incendiou na década de 1990 e agora é apenas um terreno baldio, mas a memória tem a capacidade de reconstruir todo o edifício, com seus detalhes das paredes em terracota com filetes pintados em branco. Os azulejos do refeitório em amarelo e as mesas pintadas de verde. Não há particularidade que a memória deixe escapar mesmo depois de quarenta e quatro anos de distância. Caso tivesse a habilidade da arquitetura conseguiria redesenhar tudo sem esquecer a pedra lascada da escadaria interna sob o campanário.

Votos de uma sexta-feira de lembranças reconstrutivas!
DESTAQUE DO DIA

Dia Thomas Morus

Sir Thomas More, por vezes latinizado em Thomas Morus ou aportuguesado em Tomás Morus (Londres, 7 de Fevereiro de 1478 — Londres, 6 de Julho de 1535) foi homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de "Lord Chancellor" (Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da Inglaterra.

É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Foi canonizado como santo da Igreja Católica em 9 de Maio de 1935 e sua festa litúrgica se dá em 22 de Junho.

More foi convocado, excepcionalmente, para fazer o juramento em 17 de abril de 1534, e, perante sua recusa, foi preso na Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John Fisher, tendo ali escrito o "Dialogue of Comfort against Tribulation". A sua decisão foi manter o silêncio sobre o assunto. Pressionado pelo rei e por amigos da corte, More decidiu não enumerar as razões pelas quais não prestaria o juramento.

Inconformado com o silêncio de More, o rei determinou o seu julgamento, sendo condenado à morte, e posteriormente executado em Tower Hill a 6 de Julho. Nem no cárcere nem na hora da execução perdeu a serenidade e o bom humor e, diante das próprias dificuldades reagia com ironia.

Pela sentença o réu era condenado "a ser suspenso pelo pescoço" e cair em terra ainda vivo. Depois seria esquartejado e decapitado. Em atenção à importância do condenado o rei, "por clemência", reduziu a pena a "simples decapitação". Ao tomar conhecimento disto, Tomás comentou: "Não permita Deus que o rei tenha semelhantes clemências com os meus amigos." No momento da execução suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que "morria como bom servidor do rei, mas de Deus primeiro.”.

A sua cabeça foi exposta na ponte de Londres durante um mês, foi posteriormente recolhida por sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535 "antes das nove horas", ordenada por Henrique VIII, foi considerada uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra, consequência de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei. Ele está sepultando na Capela Real de São Pedro ad Vincula.[1]


[1] THOMAS MORE. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More. Acesso em 22 jun 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    teus sonhos/realidades se misturam com utopias como as ensinadas por Morus.
    Até breve na PUC,
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      é fantástico o poder da memória para reconstruir cenários passados.
      Obrigado,

      Um abraço.

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