quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Eu roubei - ano 01 - nº 341

EU ROUBEI
ANO 01 – Nº 341

Nestes tempos em que tanta gente faz os maiores malabarismos para esconder suas falcatruas, me enchi de coragem e vim aqui dizer, publicamente que roubei.  Vou contar a história desde o início para que não sobre qualquer dúvida sobre a ilicitude do meu ato.

Ontem fui à feirinha da esquina para comprar algumas verduras, frutas e legumes. A Ana estava preparando um jantar para uns amigos. Encontramos algumas das verduras que procurávamos. Outras não estavam com um aspecto bonito e por isso deixamos para buscá-las noutro estabelecimento.

Enquanto minha esposa estava na fila para pesar as frutas e os legumes, passei entre as gôndolas onde estavam as uvas. Havia algumas muito viçosas, bonitas, apetitosas e de qualidades diferentes. Entretanto, no meio daquelas tentadoras frutas havia uma cesta de uvas pretas, da qualidade Isabel. Eram muito miudinhas, mas de uma cor intensa que fazia lembrar as uvas que ajudava a colher durante a infância.

Não resisti à tentação e surrupiei um grão, do tamanho de uma pérola media. Limpei na manga camiseta e a comi sentido aquele sabor da infância. Fiquei com a casca na mão enquanto encontrava um cesto de lixo para descartá-la, o que demorei em encontrar.

Quando olhei para o dedo, não houve dúvidas sobre o meu roubo: lá estavam três dedos manchados, com aquela coloração forte, denunciando o meu ato ilícito.

Cá com os meus botões, fiquei meditando sobre o ato de esconder os delitos. Não há como esconder as marcas deixadas por aquilo que as pessoas ilicitamente surrupiam da sociedade. Procurar formas de ocultar o que já está ‘grudado’ à pessoa que pratica, seria como tentar retirar um pedaço de si mesmo. No entanto, tenho acompanhado pessoas públicas que se prestam em ir a reuniões públicas, emissoras de radio, de TV, jornais etc. dizer que são inocentes, que jamais quitaram algo que não lhes pertenciam. Falam com uma seriedade tão ‘esfarrapada’ que nem elas próprias acreditam no que dizem. Meses depois são desmascaradas por investigações policiais ou pelo Ministério Público.

Fico imaginando que a consciência moral (se é que portam uma) dessas pessoas fica muito parecida com as manchas dos meus dedos depois de descartar a casca daquela uvinha. Não adianta esfregar, nem lavar rapidamente.

Pois é, o sabor delicioso da pequena fruta me custou a mancha resistente nos dedos e na consciência, mas imagino que não faça o mesmo com certas pessoas que desviam verbas milionárias do erário público para o seu patrimônio particular. Será falta de coragem para assumir ou o resultado de uma consciência petrificada, inabalável, viciada?

Com votos de uma quarta-feira de reflexões!
DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Bentham (264 anos)

Jeremy Bentham nasceu a 15 de fevereiro de 1748 e morreu a 6 de junho de 1832. Foi um filósofo e jurista inglês. Juntamente com John Stuart Mill e James Mill, difundiu o utilitarismo, teoria ética que responde todas as questões acerca do que fazer, do que admirar e de como viver, em termos da maximização da utilidade e da felicidade. Conhecido também pela idealização do Pan-otismo, que corresponde à observação total, a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo. Em 1789, concebeu o Pan-ótico, que foi pensado como um projeto de prisão modelo para a reforma dos encarcerados. Mas, por vontade expressa do autor, foi também um plano exemplo para todas as instituições educacionais, de assistência e de trabalho, uma solução econômica para os problemas do encerramento e o esboço de uma sociedade racional. Bentham foi quem primeiro utilizou o termo deontologia ('deon', dever + 'logos', ciência) para definir o conjunto de princípios éticos aplicados às atividades profissionais. O ponto de partida do utilitarismo de Bentham encontra-se na sua crítica à teoria do direito natural, que supõe a existência de um "contrato" original pelo qual os súditos devem obediência aos soberanos. Para ele, a doutrina do direito natural é insatisfatória por duas razões: primeiro, porque não é possível provar historicamente a existência de tal contrato; segundo, porque, mesmo provando-se a realidade do contrato, subsiste a pergunta sobre por que os homens estão obrigados a cumprir compromissos em geral. Em sua opinião, a única resposta possível reside nas vantagens que o contrato proporciona à sociedade.[1]


[1] JEREMY BENTHAM. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jeremy_Bentham. Acesso em 15 fev 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    Não tenho o poder de perdoar pecados, mas outorgo-me e te absolvo!
    Um abraço emergencialmente em Curitiba,
    Acusador

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Attico,
      ainda bem que me absolveste. Obrigado pelo teu comparecimento a esse blog e pelo comentário.

      Um abraço.

      Excluir