segunda-feira, 14 de maio de 2012

CERA NO OUVIDO - ANO 02 – Nº 428



No duodécimo canto de Odisseia, como se sabe, Ulisses,
querendo ouvir o canto das sereias, mas sem correr
qualquer fisco, pede que seus comandados o amarrem no mastro
do navio, os quais nada ouvirão por estarem cheios de
ceras no ouvido.[1]

A situação dos marinheiros de Ulisses é típica da situação que vivemos diversas vezes. Estamos imersos numa realidade desafiadora, repleta de cantos e encantos, mas atravessamos incólumes porque os encantos não podem ser percebidos. Os ouvidos repletos de cera representavam a segurança dos navegadores, mas também significavam a sua alienação diante da maravilha do canto das sereias.

Por vezes não reparamos que a multiplicidade de estímulos do existir contemporâneo adquire a função da cera no ouvido. São tantos os ruídos, gritos, barulhos e estrondos que a sensibilidade torna-se embaralhada. Dessa forma, não percebemos as maravilhas que acompanham nosso dia-a-dia.

Por um lado é a multiplicidade de cores da natureza que se prepara para acolher o inverno. De outro, é o silêncio dos pássaros que, depois de verem seus filhotes atingirem sua autonomia, recolhem seu canto para despertá-lo apenas na primavera. Por outro ainda, é o aquietar dos ventos de verão que revolvem cabelos, vestes, poeiras etc.

Dependendo da sensibilidade, é possível perceber a grandiosidade e a beleza desse pequeno universo do qual fazemos parte e no qual nos inserimos como beneficiários. Em cada momento é possível perceber uma ‘sereia’ encantando nosso existir, só obscurecida pela ‘cera’ da multiplicidade enlouquecida da agitação contemporânea.

Com votos de uma boa segunda-feira!
DESTAQUE DO DIA

Morte de Lutzenberger (10 anos)

José Antônio Lutzenberger nasceu em Porto Alegre, 17 de dezembro de 1926 e morreu na mesma cidade a 14 de maio de 2002. Foi um agrônomo e ecologista brasileiro que participou ativamente na luta pela conservação e preservação ambiental. Na obra "Fim do Futuro: Manifesto Ecológico Brasileiro", que lançou em 1980, já previa o problema do aquecimento global, alertando por exemplo que "a Amazônia não é o pulmão do planeta, é o ar condicionado do planeta". Por sua representatividade como liderança social, foi convidado e tomou posse como secretário-especial do Meio Ambiente da Presidência da República de 1990 a 1992, quando se demitiu do cargo, desiludido com a burocracia e os jogos de poder e disputa de interesses.

Localizada em Pantano Grande (RS), a Fundação Gaia, criada por ele, atua na área de educação ambiental e na promoção de tecnologias socialmente compatíveis, tais como a agricultura regenerativa (ecológica), manejo sustentável dos recursos naturais, medicina natural, produção descentralizada de energia e saneamento alternativo.

A sede rural leva o nome de Rincão Gaia, área de 30 hectares situada sobre uma antiga jazida de basalto, e que se tornou exemplo de recuperação de áreas degradadas. O lugar é habitado por diversas espécies silvestres, como a jaçanã, o martim-pescador, o ratão-do-banhado, a lontra, a coruja-das-torres, e outras espécies animais. Além disso, lá funciona o centro de educação ambiental e de divulgação da agricultura regenerativa.[2]


[1] BORBA, S; KOHAN, W. (orgs.) Filosofia, aprendizagem experiência. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2008, p. 254.
[2] JOSÉ LUTZENBERGER. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Lutzenberger. Acesso em 14 maio 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro colega Garin,
    oportuna a homenagem que fazes a um dos pioneiros de defesa ao meio ambiente: José Antônio Lutzenberger, sua importância é muito significativa.
    Já curto a tarde na UAM.
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      foi através do Lutzenberg que fui despertado, na década de 1970, param a conscientização dos cuidados com o meio ambiente.
      Um abraço,

      Garin

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