segunda-feira, 28 de maio de 2012

Movimento e instituição - ANO 02 – Nº 442


MOVIMENTO E INSTITUIÇÃO

Participei recentemente de uma conferência sobre a evolução que acontece na sociedade humana. Podem-se observar como determinados movimento sociais de reivindicação e alguns até de agitação maior evoluem para sua segmentação através de regulamentos e normativas.

Foto 1
A fase de movimento catalisa paixões e idealismos que mantém acesa a chama do envolvimento das pessoas. Nesse período, os participantes de determinadas marchas são capazes de entregar suas vidas pelas bandeiras ideológicas que desfraldam. O grupo cresce porque encontra outros desiludidos com a situação social na qual se encontram mergulhados. O movimento tem seus líderes, fazem passeadas, proferem-se discursos inflamados, em alguns casos há utilização de armas (revoltosos) e se agiganta espalhando-se por diversas regiões. Há contradições, acontecem repressões violentas, prisões e mortes, muitas vezes. Quem está na governança da situação acusa o movimento de insurreição e, com medo de perder o espaço, tenta sufocar por todas as maneiras.

Dependendo da sustentação ideológica, podem se estender por anos afio. Entretanto, com o passar do tempo, ao se realizarem as conquistas, muitas vezes deturpadas por seus respectivos líderes, o movimento tende a se aplacar através de cerceamentos institucionais. Criam-se normativas e regulamentações para definir quem está e quem não está a favor do movimento, o que pode e o que não pode ser dito. Dessa forma, o ardor e a paixão do movimento vão dando lugar às diretrizes e leis e cresce a instituição que, por diversos estratagemas, tenta preservar a ‘pureza’ ideológica do movimento.

A próxima etapa é a da divisão. Sempre existem aqueles que não concordam com os novos rumos e se apartam criando um novo movimento que tenta restaurar as antigas bandeiras ideológicas que, por terem se alterado os contextos históricos, se mostram inadequadas. Nessa fase aparecem nomes tais como “o autêntico...”, “o original...”, “o verdadeiro...” etc. As tentativas de se retornar aos inícios são completamente infrutíferas, pois o tempo já passou.

A instituição se fortalece, estratificam-se as normas. As novas gerações que não participaram das lutas originais não conseguem perceber o valor e o preço do que tudo aquilo custou às antigas gerações que deram suas lágrimas e seu sangue, tendem a menosprezar novo status quo. Infelizmente, a maior parte dessas instituições acaba cometendo deslizes muito semelhantes aqueles contra os quais as antigas gerações ergueram suas bandeiras.

Ou a instituição se reformula completamente ou nascem novos movimentos para deitar abaixo tudo aquilo e se erguer uma nova concepção. Parece que essa é, simplificadamente, a trajetória de quase todas as organizações sociais.

Com votos de uma boa semana!


Foto 1: disponível em http://veja.abril.com.br/assets/images/2011/7/42636/protesto-kuala-lumpur-20110709-size-598.jpg?1310226870. Acesso em 28 maio 2012.

4 comentários:

  1. Prof Garin, o senhor sintetizou,com tamanha lucidez, várias críticas e análises de quem circula e se decepciona com as bandeiras dos movimentos sociais Gostei demais!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara Marília,
      obrigado pelo teu comentário; também já me decepcionei com essas coisas, mas continuo lutando - sempre há uma esperança à frente!
      Um abraço,
      Garin

      Excluir
  2. Muito estimado Garin,
    e não nos damos contas ~~ ingenuamente ~~ destes movimentos.
    Com agradecimentos.
    attico chassot

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Chassot,
      infelizmente as pessoas não conseguem se desvincular dos "movimentos" e com receito de perder seu espaço, institucionalizam-nos.
      Um abraço,
      Garin

      Excluir