quarta-feira, 23 de maio de 2012

Escancarada - ANO 02 – Nº 437


ESCANCARADA

Tomei o ônibus na estação mais próxima da minha casa. Precisava chegar ao centro da cidade para realizar algumas compras. Aqui no bairro a gente não encontra certos ingredientes, ou quando encontra, são muito caros. Como estivesse lotado, preferi ficar em pé antes de passar pela roleta.

Sentada em uma poltrona muito próxima de onde eu estava, viajava uma senhora portando uma pasta grande, com várias divisões. Desde a minha entrada, notei que ela falava ao celular. Conforme a viagem foi avançando ia conversando com a atendente de um banco. Por diversas vezes ela repetia o desejo de trocar os seus dados no cadastro da instituição. Ela morava antigamente em um bairro da zona norte e queria receber os extratos bancários noutro endereço para o qual havia se mudado recentemente. Conforme a atendente perguntava ela fornecia seus dados pessoais como endereço, número de CPF, identidade, número do PIS, nome da mãe etc. À medida que a conversa se prolongava ela abria uma e outra parte da sua pasta de onde tomava os diferentes documentos para informar os dados pelo telefone. O impressionante é que todos os passageiros do ônibus, quem sabe uns cinquenta, também acompanharam todas as informações que se prolongaram por uns vinte e cinco minutos.

Muito se tem falado sobre segurança e, especialmente, segurança de dados pessoais. Sei que, com o advento da internet, manter sigilo sobre essas informações é uma coisa difícil. Eu mesmo recebo propaganda de produtos que servem direitinho em mim como se fossem uma luva, Prêt à Porter. Entretanto, escancarar os dados dentro de um lotado ônibus urbano representa um risco elevado.

Quando reclamamos da falta de segurança nos reportamos a um direito público que temos. Não há como negar que os aparatos de segurança disponíveis são insuficientes. Entretanto, há um quinhão de segurança que depende exclusivamente de nós, pessoalmente. A maneira como nos expomos, na internet, num caixa eletrônico, ou dentro de um ônibus, pode facilitar a ação de quem está à espreita para roubar ou até para um assalto. Boa parte da segurança depende da própria pessoa. A exposição pública, realizada em altos brados ao celular, além de ser o convite para um estelionatário, representa uma desconsideração para com os demais passageiros.

Votos de uma quarta-feira de trabalho e de realizações!
DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Silvio Caldas (104 anos)

Sílvio Antônio Narciso de Figueiredo Caldas nasceu no Rio de Janeiro a 23 de maio de 1908 e morreu em Atibaia a 3 de fevereiro de 1998. Foi um cantor e compositor brasileiro. Seu primeiro sucesso foi o samba de Ari Barroso intitulado Faceira (1931). Desde então, consagrou-se como um dos maiores cantores brasileiros. Chão de estrelas (1937), em parceria com Orestes Barbosa, foi um de seus maiores êxitos. Dono de timbre inconfundível, que lhe valeu a fama de grande seresteiro, é conhecido também por alcunhas carinhosas, como Caboclinho querido, A voz morena da cidade ou Titio.[1]


[1] SILVIO CALDAS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADlvio_Caldas. Acesso em 23 maio 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    o continuado Mestre do cotidiano,
    tua crônica de hoje me remeteu re-olhar alguns títulos de tuas pílulas diárias. Leio escancarada, avesso, ziguezague... vejo que há palavras que usualmente dizemos, mas pouco escrevemos. Faltou contares que 'a vizinha' fez uma 'esculhambação' a bordo com a abertura publica de seus dados.
    Uma boa quarta-feira,
    attico choassot

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    1. Amigo Chassot,
      foi, de fato, uma esculhambação que todo mundo observou. Havia na cara dos passageiros um ar de constrangimento pelo que ouviam, como se fosse alguém da própria família escancarando a vida.
      Um abraço,

      Garin

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